domingo, 4 de novembro de 2012

SUICÍDIO É FALTA DE DEUS?

Quando se tem notícia de alguém que cometeu suicídio, é comum que muitas pessoas aleguem que isso ocorre por uma falta de Deus ou ausência de uma religião na vida do suicida. Essas afirmações partem pressuposto que sem Deus não temos nenhum apoio, nenhuma esperança.  Há poucos dias tomei conhecimento de um jovem que se suicidou. Segundo me falaram, ele era ateu. Ou seja, isso para muitas pessoas explica o porquê dele ter se matado.

Acho essa explicação reducionista, impregnada de religiosidade, fanática.

Primeiro temos que mostrar qual a ligação entre o suicídio e a ausência de fé em Deus. Ou seja, temos que mostrar que foi a descrença que causou o suicídio. Enquanto não for mostrado isso, não faz sentido ligar uma coisa a outra. Por exemplo: uma pessoa pode se matar após perder um ente querido ou após descobrir ser portador de uma doença sem cura. Você pode me retrucar dizendo que alguém que tem Deus em sua vida tem forças para encarar isso. Pode ser que sim. No entanto, você estaria oferecendo uma explicação simplista demais, que ignora muitos casos e situações diferentes.

Uma pessoa que perde o ente querido pode ficar completamente desnorteada, seja religiosa ou não. Alguém em momento de intenso desespero dificilmente terá a capacidade de raciocínio, de se acalmar. Claro, alguns crentes e descrentes conseguem fazer isso. Outros crentes e descrentes não conseguem. E existem inúmeras situações que podem deixar alguém totalmente fora de si. E em muitos casos, isso se arrasta por meses e até anos. Existem casos de pessoas que perderam um ente querido e após muito tempo, ainda não se recuperaram ou vivem em tratamento psicológico ou psiquiátrico.

Estou citando como exemplo a morte de um ente querido, mas existem diversas situações em que podem nos deixar fora de controle. O problema é que muitos querem julgar os outros a partir de si mesmo. Entenda que o que pra você pode ser um probleminha para outra pessoa pode ser algo gravíssimo. Ninguém é igual a ninguém! Cada um tem seus pensamentos e sentimentos próprios. Cada um de nós é um universo, já dizia Raul Seixas.

Um religioso pode se matar por acreditar que vai ter outra vida. Um descrente pode se matar por que pode pensar que após a morte não existe nada, portanto, não vai sentir nada. Um religioso pode não se matar perante os problemas devido a sua fé em Deus, concordo. Assim como um descrente pode não se matar por pensar que essa é única vida que temos e que por isso não vai desperdiçar ela.

Existiram e existem milhões de descrentes que vivem muito bem sem nenhuma crença em nenhum deus. Se a falta de Deus ou de uma religião implica em desespero, em falta de esperança ou em suicídio diante dos problemas, como você explica esse fato? Por outro lado, muitos suicidas acreditavam em Deus ou tinham alguma religião. Mas eu não vou cometer o mesmo erro e afirmar que crença em Deus e religião causaram esses suicídios. Se bem que muitos suicídios são sim causados por crenças religiosas. Alguns fundamentalistas muçulmanos enchem o corpo de bombas e se explodem em público, por que crêem que irão para um paraíso. Essa idéia de outra vida, de paraíso, já levou muitas pessoas a tirarem suas próprias vidas por acreditarem piamente que havia uma outra as esperando.

Você poderá me retrucar dizendo que essas pessoas que tiraram suas vidas não acreditavam realmente em Deus, que alguém que tem fé em Deus não se suicida nunca! Então, eu deixo três problemas para você resolver: 1) Se descrença em Deus causa medo, desespero e falta de esperança, por que milhões de descrentes viveram ou vivem suas vidas felizes e não se suicidam perante as adversidades que enfrentam? 2) Se você resolver esse primeiro problema, poderá me responder a seguinte pergunta: todos os suicidas são descrentes ou pessoas sem religião? 3) Como você explica o fato de muitos suicídios (inclusive, suicídios coletivos!) terem sidos causados por crenças religiosas?

 
(Carlos Wilker)

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