Acho essa explicação reducionista, impregnada de
religiosidade, fanática.
Primeiro temos que mostrar qual a ligação entre o suicídio e
a ausência de fé em Deus. Ou seja, temos que mostrar que foi a descrença que
causou o suicídio. Enquanto não for mostrado isso, não faz sentido ligar uma
coisa a outra. Por exemplo: uma pessoa pode se matar após perder um ente
querido ou após descobrir ser portador de uma doença sem cura. Você pode me
retrucar dizendo que alguém que tem Deus em sua vida tem forças para encarar
isso. Pode ser que sim. No entanto, você estaria oferecendo uma explicação
simplista demais, que ignora muitos casos e situações diferentes.
Uma pessoa que perde o ente querido pode ficar completamente
desnorteada, seja religiosa ou não. Alguém em momento de intenso desespero
dificilmente terá a capacidade de raciocínio, de se acalmar. Claro, alguns
crentes e descrentes conseguem fazer isso. Outros crentes e descrentes não
conseguem. E existem inúmeras situações que podem deixar alguém totalmente fora
de si. E em muitos casos, isso se arrasta por meses e até anos. Existem casos
de pessoas que perderam um ente querido e após muito tempo, ainda não se
recuperaram ou vivem em tratamento psicológico ou psiquiátrico.
Estou citando como exemplo a morte de um ente querido, mas
existem diversas situações em que podem nos deixar fora de controle. O problema
é que muitos querem julgar os outros a partir de si mesmo. Entenda que o que
pra você pode ser um probleminha para outra pessoa pode ser algo gravíssimo.
Ninguém é igual a ninguém! Cada um tem seus pensamentos e sentimentos próprios.
Cada um de nós é um universo, já dizia Raul Seixas.
Um religioso pode se matar por acreditar que vai ter outra
vida. Um descrente pode se matar por que pode pensar que após a morte não
existe nada, portanto, não vai sentir nada. Um religioso pode não se matar
perante os problemas devido a sua fé em Deus, concordo. Assim como um descrente
pode não se matar por pensar que essa é única vida que temos e que por isso não
vai desperdiçar ela.
Existiram e existem milhões de descrentes que vivem muito
bem sem nenhuma crença em nenhum deus. Se a falta de Deus ou de uma religião
implica em desespero, em falta de esperança ou em suicídio diante dos
problemas, como você explica esse fato? Por outro lado, muitos suicidas
acreditavam em Deus ou tinham alguma religião. Mas eu não vou cometer o mesmo
erro e afirmar que crença em Deus e religião causaram esses suicídios. Se bem
que muitos suicídios são sim causados por crenças religiosas. Alguns
fundamentalistas muçulmanos enchem o corpo de bombas e se explodem em público,
por que crêem que irão para um paraíso. Essa idéia de outra vida, de paraíso,
já levou muitas pessoas a tirarem suas próprias vidas por acreditarem piamente
que havia uma outra as esperando.
Você poderá me retrucar dizendo que essas pessoas que
tiraram suas vidas não acreditavam realmente em Deus, que alguém que tem fé em
Deus não se suicida nunca! Então, eu deixo três problemas para você resolver:
1) Se descrença em Deus causa medo, desespero e falta de esperança, por que
milhões de descrentes viveram ou vivem suas vidas felizes e não se suicidam
perante as adversidades que enfrentam? 2) Se você resolver esse primeiro
problema, poderá me responder a seguinte pergunta: todos os suicidas são
descrentes ou pessoas sem religião? 3) Como você explica o fato de muitos
suicídios (inclusive, suicídios coletivos!) terem sidos causados por crenças
religiosas?
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