quarta-feira, 22 de maio de 2013

E se Deus existir?

 
   
   Em debates e diálogos, é comum me dirigirem a seguinte pergunta: “e se Deus existir?” Ou seja, e se quando eu morrer eu der de cara com Deus? Isso implicaria que eu estaria condenado a viver eternamente no inferno, já que segundo a Bíblia, esse é o lugar reservado aos incrédulos. Analisarei esse raciocínio nas próximas linhas.

   Primeiro eu quero dizer ao caro leitor que não vejo nenhum infortúnio na possibilidade de morrer e dar de cara com Deus. Ora, cresci ouvindo que Deus é justo, amoroso, misericordioso, onisciente, onipotente. Um deus assim me condenaria por minha sinceridade e honestidade?

   Quando alego que não acredito que existe um deus, estou sendo sincero comigo e com todos que conheço. Por mais que eu possa dizer que acredite, estaria mentindo, disfarçando. Por acaso eu conseguiria enganar Deus? Por acaso eu conseguiria meu ingresso para o céu sendo falso e mentiroso?

   Mas se o leitor insistir que minha descrença me leva ao tormento eterno, independente de minha sinceridade, devo eu discordar que Deus seja aquele a que tantos louvam e adoram. Que culpa eu tenho por ser descrente? Eu não escolhi ser ateu! Apenas acho a ideia de Deus incoerente e os argumentos em favor de sua existência pouco convincentes. Se você já teve uma experiência com Deus, presenciou milagres ou teve orações atendidas, parabéns pra você, mas eu nunca tive nem vi nada disso!

   Deus existindo ou não, o melhor e mais seguro a se fazer é ser sincero consigo mesmo. Eu costumo brincar afirmando que é melhor muita gente admitir sua descrença ou suas dúvidas, por que vai que Deus exista! O que quero dizer é que se Deus existir, ele não vai ser ludibriado por discursos ou declarações desonestas ou interesseiras. Você, leitor, acredita no que está escrito na Bíblia por medo ou interesse ou por que realmente lhe parece coerente acreditar que existam anjos, demônios, Diabo, céu e inferno? Respondendo a mim, você pode até mentir ou fingir. Agora se imagine respondendo essa pergunta a um ser onisciente, onipresente e onipotente. Nesse caso, eu apostaria na mais pura sinceridade. E você?

   Talvez Deus exista. Não nego essa possibilidade. Mas isso não me faz enveredar por outros caminhos. É justamente graças a possibilidade de Deus existir que encontro mais uma boa razão para apostar em minha sinceridade. Agora, se Deus vai me condenar ao inferno por ter sido sincero em relação a não acreditar em sua existência, ele não possui os atributos que a Bíblia nos revela.



(Carlos Wilker)

As evidências a favor da existência de Deus são fracas



  

     Há uma célebre frase do astrônomo Carl Sagan que diz que afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias. Se eu dissesse a você que hoje fui para a faculdade, isso não causaria nenhum espanto. Afinal, pessoas irem pra faculdade não parece contrariar nada do que sabemos sobre a natureza e isso ocorre incontáveis de vezes em todo mundo. Talvez eu esteja mentido, mas seria normal se você acreditasse nisso. Outra coisa seria eu afirmar que meu cachorro fala fluentemente grego e latim. Isso contraria o que sabemos sobre biologia e não temos relatos ao longo da história de cães que falem fluentemente grego e latim. É muito pouco provável que alguém tenha presenciado tal coisa. Nesse meu segundo exemplo, faço uma afirmação extraordinária e para que alguém acredite nisso, eu devo fornecer evidências extraordinárias.

   A afirmação que existe um ser pessoal que criou tudo que existe, que é imaterial, atemporal, todo-poderoso, onisciente, onipresente, amoroso, que escuta orações e que pune nossos pecados, é sem dúvida uma afirmação incrivelmente extraordinária. Portanto, para que eu possa acreditar em tal afirmação, devo ter evidências suficientemente boas para sustentar minha crença. Na ausência dessa (s) evidência (s) estou plenamente justificando a pensar que tal ser não existe, assim como você estaria plenamente justificado em não acreditar que meu cachorro fale fluentemente grego e latim, caso eu não mostre evidências capazes de corroborar sua crença.

   Penso que minha posição é racional e é adotada por quase todos. Quantas pessoas você conhece atualmente que acredite que o deus grego Zeus ou deus nórdico Odin existam? Mas se você conhecesse evidências que apontassem fortemente para a existência de ambos, provavelmente você mudaria de ideia. O mesmo deve ser feito em relação ao deus dos cristãos.

   Talvez o leitor afirme que existam evidências (Argumento Cosmológico, Argumento Teleológico, Argumento Ontológico, entre outros) capazes de sustentar a crença nesse ser. Bem, isso não parecer ser verdadeiro. Se existem evidências claras que o deus dos cristãos existe, por que há tantas pessoas que não acreditam nesse deus? Podemos citar ateus, deístas, hindus, budistas, agnósticos e muitos outros que não acreditam que o deus dos cristãos exista. Muitos cientistas, filósofos, historiadores e pensadores pensam que tal deus é apenas mais um mito, como tantos outros. Se tais evidências são mesmo convincentes, deveríamos ter ao menos um número consideravelmente menor de descrentes nesse deus. Quantas pessoas você conhece que não acredite na Lei da Gravidade? Particularmente, não conheço ninguém. E isso parece plausível já que há evidências suficientes boas para pensar que essa lei é verdadeira. E em caso de dúvidas, é só pular do 10º andar de um prédio.

  Alguém deve está se perguntando: mas, se não existem boas evidências em favor da existência do deus dos cristãos, por que há tantos que acreditam nele? Essa inversão é mesmo interessante. Eu defendo que a crença nesse deus é algo puramente histórico e cultural. Os antigos gregos e egípcios não tiveram nenhuma relação com esse deus, por exemplo. Acho que muitos concordariam comigo se eu dissesse que a crença em deus normalmente não está apoiada em evidências ou argumentos, mas em experiências pessoais. Outra coisa que é importante saber é que alguns apologistas reconhecem que não há evidências capazes de “provar” a existência de deus. Segundo Doug Krueger (Ph.D. em Filosofia), Karl Barth e Alvin Plantinga estariam entre eles.

   Se você tivesse nascido e vivido entre os antigos gregos, acreditaria em Zeus, Apolo, Atena ou Hades. Se você tivesse vivido entre os Maias, os Astecas ou os Incas, você compartilharia das mesmas crenças religiosas deles. Isso é algo muito óbvio. Se você é cristão é por que nasceu em uma época ou cultura onde o cristianismo tem grande influência. Até mesmo em dias atuais, se você tivesse nascido em outras regiões do mundo, dificilmente você seria cristão. Alguém pode novamente inverter e alegar que o ateísmo também é algo cultural. Eu concordaria, mas não veria como isso implicaria negativamente em meu argumento. Porém, não estou argumentando em favor do ateísmo, mas contra a existência do deus dos cristãos.

   O que me faz sustentar que às evidências em favor da existência do deus dos cristãos são fracas é a inúmera quantidade de pessoas descrentes nesse deus. Isso sem falarmos em muitos povos antigos (antigos gregos, romanos, nórdicos, nativos americanos). Se há evidências que corroboram a existência desse deus ou se sua existência é tão clara, por que tantos não acreditaram ou não acreditam nele? Por que Deus não tornar sua existência conhecida a todos que poderiam se beneficiar desse conhecimento?

   Talvez futuramente surjam evidências realmente convincentes de que esse deus existe (quando surgirem, provavelmente o número de descrentes nesse deus cairá drasticamente). Enquanto elas não aparecem, estou plenamente justificado em pensar que o deus dos cristãos não existe, assim como Zeus ou Odim.


(Carlos Wilker)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

JESUS NÃO É AMOR!


  A imagem de Jesus é tida como sinônimo de tudo que é bom e agradável. Em adesivos, camisetas, paredes, muros e carros o que mais se ver é a propaganda de um Jesus amoroso, justo e fiel. Nesse texto eu quero mostrar um lado que pelo visto as pessoas não conhecem ou fingem não conhecer: um Jesus cruel, injusto e assustador. Daqui pra frente usarei Jesus e Deus como sinônimos, já que para grande maioria dos cristãos, Jesus é Deus.

  O Novo Testamento é bem claro: ou aceita Jesus ou vai para o inferno. E é aqui que cai a máscara do Jesus amoroso divulgado pelo Smilingüido. Jesus te ama incondicionalmente, mas se você não acreditar e colocar em prática seus ensinamentos, vai ser condenado. Ou seja, você pode ser honesto, generoso, bom pai, bom filho, bom marido ou esposa, se não acatar esse requisito, desce meu filho! Agora imagine quantas pessoas incríveis existem ao redor do mundo, que são exemplos de caridade e bondade, mas que serão condenadas ao inferno por serem budistas, hindus, deístas, ateías, agnósticas. O grande erro deles? Não tem Jesus como Senhor e Salvador. Mas se eles não acreditam, eles devem fingir? Por acaso escolhemos acreditar nas coisas? Mesmo que essas pessoas amem a seu próximo, mesmo que sejam corretas, se não tiverem Jesus como guia de suas vidas, não adianta: inferno. Isso é justo para VOCÊ? Talvez você comece a enrolar e dizer que a justiça de Deus é diferente da nossa, que Deus é amor, mas é justiça (ambas se opõem?!), mas a pergunta é para VOCÊ. Você acha justo que pessoas bondosas sofram eternamente por não acreditarem em algo, mesmo que essas pessoas sejam célebres exemplos de bondade, caridade e generosidade? Por quê?

  Mediante a Bíblia, o inferno me aguarda ansioso. Os incrédulos não herdaram o Reino dos Céus, não é mesmo? Vou para o inferno por que não acredito em anjos, demônios, céu, inferno, Diabo, Espírito Santo. Você quer que eu finja acreditar? Se Jesus acha de bom grado me condenar por ser sincero, que o faça! Isso mostra um lado dele que a Sessão da Tarde na Globo não mostra.

  Pregadores, no intuito de meter medo em quem os ouvem, gritam ao microfone: imagine você sofrendo eternamente no inferno! Eu já imaginei e achei a coisa mais injusta de todas. Muitos mataram, estupraram e roubaram, mas receberam a mesma recompensa que aqueles que entregaram suas vidas para servir e ajudar a quem necessita. Você acha justo que alguém que roube um quilo de feijão num momento de total desespero receba a mesma pena que alguém que estuprou e matou várias crianças?

  Alguns argumentam que na verdade todos merecem o inferno. Ok, então por que todos não são mandados para lá? Ora, por que Deus na sua misericórdia nos deu seu filho para nos salvar. Perceba que andamos em círculos. Por exemplo: eu sou ateu e você é cristão. Eu sou condenado e você é salvo. Qual critério? Crer em Jesus. Ou seja, só merece ser salvo quem crer em Jesus. Mas por que aqueles que não são cristãos merecem o inferno?  Por que não creem em Jesus! Voltamos a andar em círculos.
Imagine milhões e milhões de pessoas sofrendo eternamente. Você cristão, o que acharia de um criminoso sendo torturado na prisão durante alguns meses? Você cristão, o que acharia de alguém sendo severamente punido por não ser cristão? Pois é, o Jesus amoroso acha justo que inúmeros seres humanos sofram eternamente.

  Não podemos esquecer que o Jesus amoroso e fiel fica de braços cruzados enquanto muitos inocentes e indefesos sofrem cruelmente. Por que Jesus não ajuda milhares e milhares de crianças que são estupradas e mortas? Por que Jesus na auxilia pequenos que sofrem até a morte em leitos de hospitais? Por que Jesus ao menos não acaba com o câncer e as deficiências físicas? Você cristão, faria isso se pudesse ou você ver alguma vantagem no câncer e nas deficiências?

   Há quem argumente Jesus não interfere em nosso livre arbítrio. E desde quando ajudar alguém é interferir no livre arbítrio? Quer dizer que quando Deus ajudou muitas pessoas, como nos diz a Bíblia, ele estava interferindo no livre arbítrio? Quando Deus abriu o Mar Vermelho, ele estava interferindo no livre arbítrio de milhares de pessoas? Uma pergunta que costumo fazer é onde fica o livre arbítrio das vítimas. O estuprador escolheu estuprar e matar a criança, certo? E a criança escolheu ser estuprada e morta? Nesse caso, Jesus ainda estaria violando o livre arbítrio da criança se a ajudasse? O livre arbítrio aqui só existe por parte do agressor, não da vítima.

  Alguns argumentam que tudo faz parte de um plano. Belo plano! Inúmeras pessoas sofrendo até a morte sem auxílio e inúmeras sofrendo eternamente no inferno. Isso deve ser o plano de algum produtor de filmes de terror. Mas Deus é soberano, afirmam. Quem perguntou? Não estamos falando sobre soberania, estamos falando sobre ser justo e amoroso.

  Há quem tenha a cara de pau de falar que nós é que escolhemos ir para o inferno! Você acha que milhões de seres humanos escolheram de livre e espontânea vontade passar a eternidade sofrendo e levar consigo as pessoas que amam? Sinceramente. Até mesmo um suicida almeja algo bom: um descanso, um alívio, um término para sua tristeza. Eu não escolhi ir para o inferno pelo óbvio motivo de não acreditar que o inferno existe. Certa vez num debate, alguém da platéia me perguntou o que Deus tinha feito, para que eu não acreditasse ou fosse tão revoltado com ele. Respondi que ele não tinha feito nada, já que para mim, Deus não existe. Eu queria ter perguntado o que o Bicho Papão tinha feito para que ele não acreditasse nele. Mas já pensou se ele acreditasse mesmo no Bicho Papão?

  Eu ainda poderia citar o Dilúvio. Imagine animais e pessoas se afogando, sendo atiradas contra as rochas, despedaçadas, tendo seus membros arrancados, boiando podres sobre às águas. Isso os desenhos animados não mostram, já que assustaria muitas crianças. Imagine crianças em estado de decomposição, mulheres grávidas. Macabro! Mas existem uns doentes mentais que ainda querem arrumar uma desculpa para tal ato. Afinal, não escutaram a Noé! Isso também vale para crianças? Isso vale para recém nascidos? Isso vale para vidas ainda nos ventres das mães? A lista de crueldade, sangue e violência é enorme! Mas para meu propósito já é o suficiente.

  O Jesus amoroso, justo e fiel enviará (sim, ele enviará, já que ele julgará) grande parte da humanidade para o inferno e fica olhando enquanto inocentes e indefesos sofrem ou são torturados. É isso o que você chama de amoroso, justo e fiel?


(Carlos Wilker)

VOCÊ NÃO TEM RELIGIÃO, MAS ACREDITA EM UM SER QUE CRIOU TUDO?


  Conheço algumas pessoas que se dizem religião, mas que acreditam num ser pessoal que criou tudo ou em “algo” a mais além de nossa compreensão. Para elas a tradicional visão dos religiosos sobre Deus é ingênua e em demasia fantasiosa. Acreditar apenas em “algo” a mais ou em alguém que gerou tudo, parece mais sofisticado e racional. Nesse texto, argumento que não é bem assim. Talvez essa visão seja menos superticiosa e crédula, já que exclui coisas como anjos, demônios, céu e inferno, mas ainda carrega muitos traços religiosos. Aqueles que defendem essa visão afirmam ter uma visão espiritual independente das religiões. Veremos que essa visão não é tão particular como parece.

  Alguns afirmam: “não sou ateu, acredito em “algo” a mais por trás de tudo, um mistério”. Se com isso você querem dizer que acreditam que existe algo que explique a existência de tudo, mas que não conseguimos alcançar, quero falar que muitos ateus pensam assim. Claro que existem coisas que jamais poderemos explicar. E isso não coloca em xeque o ateísmo, desde que esse “algo” não seja uma divindade. Conheço ateus que acreditam existir um mistério, algo além de nossa capacidade de compreensão, no entanto, são ateus. Se você acredita que “algo” gerou tudo, mas que esse “algo” não é um ser pessoal, não é uma divindade, você é um ateu!

  Talvez o que essas pessoas estejam afirmando é que existem coisas que não sabemos ou não saberemos explicar. Isso me parece óbvio! Eu também penso assim. Mas é bom tomar cuidado pra não confundir o inexplicado com o inexplicável. O inexplicado é aquilo que tem explicação, mas ninguém ainda não explicou ou não explicará. Inexplicável é por definição algo sem explicação. Talvez existam coisas inexplicáveis (e como saberíamos que são inexplicáveis?), mas isso em nada refuta o ateísmo, que é a negação de divindades.

  Outros afirmam: “acredito que existe um Ser que criou tudo. Mas não tenho a concepção que a maioria dos religiosos tem”. Ok, tudo bem. Então acreditam que existe um Ser. Se é um Ser, então é pessoal. Ou seja, acreditam que um ser pessoal criou tudo. Esse Ser tem pensamentos e sentimentos? Sente amor, ódio, raiva, tristeza, é inteligente, justo, cruel? Afinal, um ser pessoal tem essas características. Se esse Ser não tiver nada disso, ele não é um ser pessoal! Uma cadeira não pensa e não sente nada. Posso afirmar que ela é um ser pessoal? Talvez achem minha comparação infeliz, já que o Ser em que acreditam é todo-poderoso. Nesse caso, posso sugerir que uma cadeira toda-poderosa criou tudo?

  Mas se esse Ser tem pensamentos e sentimentos, sentirá ou terá algumas coisas, como bondade ou inteligência, por exemplo. Afinal, por que ele criou tudo? Pra quê? Como ele resolveu fazer isso? Com que intenção? São coisas que podemos perguntar sobre um ser pessoal que criou tudo, concordam? Nesse caso, acreditam em um ser pessoal que criou tudo. Ora, isso é monoteísmo! Não? Ora, se você acredita que um ser pessoal e todo-poderoso criou tudo! Se você é um desses, eu te pergunto: você é judeu, cristão, muçulmano ou alguma outra religião monoteísta? Você pode raivosamente responder que estou exagerando. Afinal, alguém pode acreditar que um ser pessoal criou tudo, mas não ser adepto de nenhuma dessas religiões que eu citei. Claro, eu estava brincando. É que as semelhanças são tantas que eu me empolguei.

  Essas pessoas não tem uma visão tão particular. Na verdade, estão apenas repetindo metade do que as religiões monoteístas defendem. O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo também acreditam que existe um Ser pessoal que criou tudo. Mesmo entre tantas discordância teológicas e históricas, nessa parte há uma certa concordância entre eles. E entre os que apenas acreditam nesse Ser, claro.

  Não podemos esquecer daqueles que acreditam que esse  “algo” ou esse Ser não existe mais. Teria sido o responsável pela existência de tudo, mas deixo de existir. Se era algo o responsável pela existência de tudo, então, o ateísmo venceu! Afinal, não foi nenhuma divindade que criou tudo que existe. Mas se era um ser pessoa, eu fico curioso em saber como um ser todo-poderoso e criador de tudo que existe, deixa de existir. Ele morreu? Alguma doença, idade avançada ou algum acidente?

  Comparando a ideia predominante de religiões, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, e a ideia de que apenas um ser pessoal criou tudo, não vejo lá muitas diferenças. Se a primeira é insatisfatória, a segunda também não tem muito crédito.


(Carlos Wilker)

DEUS USA AS PESSOAS?


  Em círculos cristãos se repete constantemente que Deus usa as pessoas. O que isso quer dizer? A grosso modo, significa que Deus pode usar alguém para entregar uma profecia, um alerta, uma mensagem. Há casos em que o cristão fala como se Deus estivesse usando seu corpo. Conheço vários casos em que esse tipo de coisa aconteceu. Entre muitos pregadores isso é comum. Não acredito que seja Deus usando ninguém! Para mim o indivíduo está usando suas próprias palavras e acreditando que Deus o está usando como um canal. Tem algumas coisas nessa história que cheiram muito mal.

  Quando alguém chegar para você e disser: “eu sou o Senhor teu Deus e te digo”, tente dialogar com ele. Quando a pessoa usada terminar de falar, tente você entrar em um assunto. Por exemplo: pergunte a Deus qual a cura da AIDS. Lembre-se que você está conversando com Deus! Existem muitas perguntas sem respostas, não perca essa oportunidade. Eu sugiro isso, mas desconfio que vá haver algum sucesso nessa empreitada. Quando você fizer que uma pergunta ou entrar num assunto que a pessoa (ou Deus) não domine, a pessoa usada irá voltar ao normal, irá começar a pregar em cima de sua pergunta ou dirá coisas vagas que podem ser interpretadas de mil maneiras. Se alguém chegar para mim dizendo ser Deus, se prepare: vou perguntar uma cura ainda desconhecida ou número e senha do meu cartão.

  Talvez você que está lendo isso esteja falando que Deus não precisa provar nada pra ninguém, que ele faz como quer e se quiser. Isso não passa de uma desculpa esfarrapada. Pra que Jesus andou sobre às águas? Que benefício isso traz? Pelo visto, ele fez isso para demonstrar seu poder para que cressem nele. Por que ele não pode demonstrar seu poder para mim também? Afinal, a Bíblia está repleta de exibições do poder divino. E a cura de uma doença me parece algo bem mais valioso que andar sobre às águas ou transformar água em vinho.

  Há casos em que a pessoa usada diz: “lembra de tal dia? Naquele dia Deus te deu livramento. Uma pessoa queria te prejudicar, mas Deus tocou em seu coração e ela nada te fez”. Se você é cristão e acredita nesse tipo de coisa, fica emocionado, temeroso e claro, aliviado. Vamos supor que esse tal dia foi durante um evento no qual estavam várias pessoas. Como saber se alguém realmente queria te fazer algum mal? Como saber quem era que queria te fazer mal? Na revelação vinha dizendo a pessoa? É muito fácil dizer que alguém queria te fazer mal num determinado dia ou local, mas não especificar nada. Por exemplo: “caro leitor, um dia alguém que você pensa ser amigo, foi em tua casa no intuito de te prejudicar, mas Deus tocou em seu coração e ele desistiu ou algo o impediu”. Ok. Mas quem? Quando? Por quê? Como?

  Quando meu filho estava na U.T.I., uma cristã chegou para mim e disse mais ou menos isso: eu sou o Senhor Deus e digo que teu filho será curado. Antes disso, ela (ou ele) disse que sabia da minha descrença. Sinceramente eu não acreditei se tratar de algo sobrenatural, já que o esposo dela sabia de minha descrença e meu filho chegou a falecer poucos dias depois. Quando relato isso, a desculpa que dão é que não era de Deus. Se meu filho tivesse sobrevivido, aposto que teriam dito que era. Quando há um acerto, é de Deus. Quando há um erro, é por que não era de Deus. Ora, assim é muito fácil! Usando esse critério qualquer divindade é poderosa.

  Portanto, desconfiem. Não estou pedindo que ninguém deixem de acreditar. Mas o que custa uma boa dose de ceticismo? Afinal, se Deus realmente anda usando as pessoas, algumas perguntinhas não vai acabar com isso. Que verdade seria essa que tem medo de ser investigada?

(Carlos Wilker)

UM CASO CONTRA O DEUS DOS CALVINISTAS


  O termo calvinismo aqui usado será referido a visão que Deus escolhe o ser humano, não o contrário. Não sou teólogo e talvez esteja sendo simplista ou equivocado, mas para meu propósito, isso não fará muita diferença. Portanto, calvinismo aqui significa a visão que Deus escolhe para salvação aqueles segundo sua vontade. Essa visão é o oposto do arminianismo. Talvez vale ressaltar, que esse texto não tem intuitos propriamente teológicos. Trata-se mais de um argumento contra a existência de Deus. Também não se trata de uma defesa do arminianismo.

  Um calvinista dirá que existem escolhidos. Ou seja, existem aqueles que Deus separou para si. Os demais serão excluídos, condenados. Se eu não for um cristão e morrer na descrença, será simplesmente por que não sou um escolhido. Caso fosse, mais cedo ou mais tarde, eu me voltaria para Deus. Meu argumento é que a crença em Deus trata-se de um acidente histórico e geográfico. Se existem tantos cristãos no Brasil não é devido a Deus ter mais escolhidos nessa parte do mundo. Isso ocorre por que fomos colonizados por cristãos. Imagine que ao invés de portugueses e espanhóis chegando em nosso continente, tivessem chegado muçulmanos.

  Uma coisa curiosa é fato do deus dos calvinista ter uma preferência por ocidentais. Na Índia, no Japão e nos países árabes não temos tantos escolhidos assim, não é verdade? E voltando no tempo, podemos perguntar onde estão os escolhidos no Antigo Egito, Roma, Grécia. Não é notável o fato de haver tantos escolhidos no Ocidente, dominado por países cristãos? Por que entre os “bárbaros” os escolhidos só se mostraram quando eles tiveram contato com o Império Romano? E onde estão os escolhidos entre os indígenas? Quantos escolhidos existiam entre os nativos, no século XV, quando os europeus chegaram por aqui?

  Talvez seja muito óbvio notar que ninguém iria se converter ao deus dos cristãos, se, antes ter contato com a pregação ou influência cristã. Mas reconhecer isso será reconhecer que meu argumento é bem sucedido. Reconhecer isso é admitir que a crença em Deus vem através do ouvir a Palavra de Deus, como diz a Bíblia. Afinal, o que Deus tem contra os árabes, os indianos, os japoneses, os antigos egípcios, romanos e gregos? Por que esse carinho todo especial com países como Estados e Brasil? Questões históricas parecem explicar isso de forma convincente. Somos tentados a pensar que Deus não escolheu ninguém. O que parece mais provável é que simplesmente abraçamos a crenças que predominam em nossa cultura e época?

  Talvez um arminianista esteja exultante ao ler isso. Mas é bom ele ir com calma. Eu poderia perguntar a ele por que Deus não se revelou claramente para os nativos do Brasil, séculos antes da chegada dos europeus. Afinal, para escolher algo eu tenho que conhecer primeiro.
Deus escolhe ou nossa cultura e época determinam nossa fé?


(Carlos Wilker)

FÉ CEGA


  Quando debato com alguns cristãos sobre a existência de Deus, eles defendem que é mais racional acreditar que existe um criador. Segundo eles, existem evidências que corroboram a existência desse criador. Ou seja, eles estão mostrando que não acreditam cegamente, mas que se apoiam em argumentos. Mas será que se essas evidências fossem destruídas, eles deixariam de acreditar que Deus existe? Tenho sérias dúvidas.

  Um dos argumentos mais usados em favor da existência de um projetista é o fato dos animais e vegetais serem extremamente complexos. Para eles, isso é prova cabal de uma mente por trás de tudo. Mas será se eles descobrissem que existe um meio de explicar toda essa complexidade sem ter que invocar uma divindade, eles deixariam de acreditar? Duvido muito. Mas adianto que sim, há um meio de explicar toda essa complexidade: seleção natural. No entanto, sem mesmo conhecer, a maioria desqualifica essa explicação ou simplesmente nem querem saber.

  Alguns afirmam que acreditam em Deus por que a Bíblia não pode ser obra de mentes humanas, já que não tem erros e se encaixa perfeitamente, sem nenhuma contradição, mesmo tendo sido escrita por diferentes pessoas em diferentes épocas e lugares. Se você não estiver desinformado, saberá que uma porcentagem alta de estudiosos da Bíblia defendem brilhantemente que a Bíblia está repleta de erros, arcaísmos e contradições. Na verdade, a visão de uma Bíblia sem erros e contradições é vista como ingênua por boa parte dos estudiosos. E suspeito seriamente que a imensa maioria dos que defendem a inerrância total da Bíblia é composta por leigos. Pois bem, uma parte notavelmente considerável de estudiosos da Bíblia defendem que ela tem erros e contradições. No entanto, conheço pouquíssimos casos de pessoas que abandonaram a fé cristã por isso.

  Outros afirmam que acreditam em Deus por que alguém tem que ter criado o universo. Tenho que lembrar a essas pessoas que nem mesmo sabemos se foi criado. Inclusive, muitos físicos defendem que não existiu um “começo”, uma “origem”. Sem falar em boas explicações que colocam em xeque um criador para o universo. Afinal, por que o universo tem que ter sido criado? Ora, por que tem! Afirmam. A verdade é que ainda existem muitas perguntas sobre o universo. Uma delas é se realmente houve um começo. Há bons argumentos em ambos os polos. Você que acredita em Deus, trabalha com a possibilidade de não haver um começo ou de haver um começo sem seu deus sendo o causador? Se não trabalha, você deve ser simplesmente ignorado como alguém agarrado a uma fé cega e ignorante. Se sim, então você reconhece que abandonaria sua fé caso descrubam que há uma alternativa melhor que Deus para a existência do universo. Fique atento, existem sim alternativas.

  Já outros afirmam que acreditam em Deus por causa da origem da vida. Para eles, a única explicação para a origem da vida é Deus. Talvez não seja desnecessário adiantar que há algumas teorias, mesmo que não sejam definitivas. Mas não vá comemorando, já que Deus também não é uma teoria definitiva. Aliás, se seu deus for mesmo uma teoria! Suponha que daqui a 20 anos os cientistas expliquem a origem da vida sem ter que invocar Deus. Você vai deixar de acreditar em Deus? Suponha que descubram que a vida surgiu de uma substância chamada B1. Você vai abandonar sua fé ou vai perguntar qual a origem de B1? Se você se agarrava na desconhecida origem da vida, o que nos faz acreditar que você não vai fazer o mesmo e se agarrar na origem desconhecida da substância B1?

  Você se agarra em algum ou em todos esses argumentos? Se sim, você deixaria de acreditar em Deus se esses argumentos fossem removidos? Se você se tornaria um descrente, advirto que se eles não foram removidos, já estão bem abalados. No caso da inerrância da Bíblia, por exemplo, trata-se de um risco enorme. Como falei, boa parte dos estudiosos confessam existir erros e contradições na Bíblia. Detalhe: não estou me referindo a estudiosos ateus.

  Mas se você acreditaria em Deus independente desses argumentos, você tem uma fé cega. Você se apóia no seu desejo de que Deus exista, em algum conforto que essa crença possa te trazer, talvez.


Carlos Wilker