quarta-feira, 22 de maio de 2013

E se Deus existir?

 
   
   Em debates e diálogos, é comum me dirigirem a seguinte pergunta: “e se Deus existir?” Ou seja, e se quando eu morrer eu der de cara com Deus? Isso implicaria que eu estaria condenado a viver eternamente no inferno, já que segundo a Bíblia, esse é o lugar reservado aos incrédulos. Analisarei esse raciocínio nas próximas linhas.

   Primeiro eu quero dizer ao caro leitor que não vejo nenhum infortúnio na possibilidade de morrer e dar de cara com Deus. Ora, cresci ouvindo que Deus é justo, amoroso, misericordioso, onisciente, onipotente. Um deus assim me condenaria por minha sinceridade e honestidade?

   Quando alego que não acredito que existe um deus, estou sendo sincero comigo e com todos que conheço. Por mais que eu possa dizer que acredite, estaria mentindo, disfarçando. Por acaso eu conseguiria enganar Deus? Por acaso eu conseguiria meu ingresso para o céu sendo falso e mentiroso?

   Mas se o leitor insistir que minha descrença me leva ao tormento eterno, independente de minha sinceridade, devo eu discordar que Deus seja aquele a que tantos louvam e adoram. Que culpa eu tenho por ser descrente? Eu não escolhi ser ateu! Apenas acho a ideia de Deus incoerente e os argumentos em favor de sua existência pouco convincentes. Se você já teve uma experiência com Deus, presenciou milagres ou teve orações atendidas, parabéns pra você, mas eu nunca tive nem vi nada disso!

   Deus existindo ou não, o melhor e mais seguro a se fazer é ser sincero consigo mesmo. Eu costumo brincar afirmando que é melhor muita gente admitir sua descrença ou suas dúvidas, por que vai que Deus exista! O que quero dizer é que se Deus existir, ele não vai ser ludibriado por discursos ou declarações desonestas ou interesseiras. Você, leitor, acredita no que está escrito na Bíblia por medo ou interesse ou por que realmente lhe parece coerente acreditar que existam anjos, demônios, Diabo, céu e inferno? Respondendo a mim, você pode até mentir ou fingir. Agora se imagine respondendo essa pergunta a um ser onisciente, onipresente e onipotente. Nesse caso, eu apostaria na mais pura sinceridade. E você?

   Talvez Deus exista. Não nego essa possibilidade. Mas isso não me faz enveredar por outros caminhos. É justamente graças a possibilidade de Deus existir que encontro mais uma boa razão para apostar em minha sinceridade. Agora, se Deus vai me condenar ao inferno por ter sido sincero em relação a não acreditar em sua existência, ele não possui os atributos que a Bíblia nos revela.



(Carlos Wilker)

As evidências a favor da existência de Deus são fracas



  

     Há uma célebre frase do astrônomo Carl Sagan que diz que afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias. Se eu dissesse a você que hoje fui para a faculdade, isso não causaria nenhum espanto. Afinal, pessoas irem pra faculdade não parece contrariar nada do que sabemos sobre a natureza e isso ocorre incontáveis de vezes em todo mundo. Talvez eu esteja mentido, mas seria normal se você acreditasse nisso. Outra coisa seria eu afirmar que meu cachorro fala fluentemente grego e latim. Isso contraria o que sabemos sobre biologia e não temos relatos ao longo da história de cães que falem fluentemente grego e latim. É muito pouco provável que alguém tenha presenciado tal coisa. Nesse meu segundo exemplo, faço uma afirmação extraordinária e para que alguém acredite nisso, eu devo fornecer evidências extraordinárias.

   A afirmação que existe um ser pessoal que criou tudo que existe, que é imaterial, atemporal, todo-poderoso, onisciente, onipresente, amoroso, que escuta orações e que pune nossos pecados, é sem dúvida uma afirmação incrivelmente extraordinária. Portanto, para que eu possa acreditar em tal afirmação, devo ter evidências suficientemente boas para sustentar minha crença. Na ausência dessa (s) evidência (s) estou plenamente justificando a pensar que tal ser não existe, assim como você estaria plenamente justificado em não acreditar que meu cachorro fale fluentemente grego e latim, caso eu não mostre evidências capazes de corroborar sua crença.

   Penso que minha posição é racional e é adotada por quase todos. Quantas pessoas você conhece atualmente que acredite que o deus grego Zeus ou deus nórdico Odin existam? Mas se você conhecesse evidências que apontassem fortemente para a existência de ambos, provavelmente você mudaria de ideia. O mesmo deve ser feito em relação ao deus dos cristãos.

   Talvez o leitor afirme que existam evidências (Argumento Cosmológico, Argumento Teleológico, Argumento Ontológico, entre outros) capazes de sustentar a crença nesse ser. Bem, isso não parecer ser verdadeiro. Se existem evidências claras que o deus dos cristãos existe, por que há tantas pessoas que não acreditam nesse deus? Podemos citar ateus, deístas, hindus, budistas, agnósticos e muitos outros que não acreditam que o deus dos cristãos exista. Muitos cientistas, filósofos, historiadores e pensadores pensam que tal deus é apenas mais um mito, como tantos outros. Se tais evidências são mesmo convincentes, deveríamos ter ao menos um número consideravelmente menor de descrentes nesse deus. Quantas pessoas você conhece que não acredite na Lei da Gravidade? Particularmente, não conheço ninguém. E isso parece plausível já que há evidências suficientes boas para pensar que essa lei é verdadeira. E em caso de dúvidas, é só pular do 10º andar de um prédio.

  Alguém deve está se perguntando: mas, se não existem boas evidências em favor da existência do deus dos cristãos, por que há tantos que acreditam nele? Essa inversão é mesmo interessante. Eu defendo que a crença nesse deus é algo puramente histórico e cultural. Os antigos gregos e egípcios não tiveram nenhuma relação com esse deus, por exemplo. Acho que muitos concordariam comigo se eu dissesse que a crença em deus normalmente não está apoiada em evidências ou argumentos, mas em experiências pessoais. Outra coisa que é importante saber é que alguns apologistas reconhecem que não há evidências capazes de “provar” a existência de deus. Segundo Doug Krueger (Ph.D. em Filosofia), Karl Barth e Alvin Plantinga estariam entre eles.

   Se você tivesse nascido e vivido entre os antigos gregos, acreditaria em Zeus, Apolo, Atena ou Hades. Se você tivesse vivido entre os Maias, os Astecas ou os Incas, você compartilharia das mesmas crenças religiosas deles. Isso é algo muito óbvio. Se você é cristão é por que nasceu em uma época ou cultura onde o cristianismo tem grande influência. Até mesmo em dias atuais, se você tivesse nascido em outras regiões do mundo, dificilmente você seria cristão. Alguém pode novamente inverter e alegar que o ateísmo também é algo cultural. Eu concordaria, mas não veria como isso implicaria negativamente em meu argumento. Porém, não estou argumentando em favor do ateísmo, mas contra a existência do deus dos cristãos.

   O que me faz sustentar que às evidências em favor da existência do deus dos cristãos são fracas é a inúmera quantidade de pessoas descrentes nesse deus. Isso sem falarmos em muitos povos antigos (antigos gregos, romanos, nórdicos, nativos americanos). Se há evidências que corroboram a existência desse deus ou se sua existência é tão clara, por que tantos não acreditaram ou não acreditam nele? Por que Deus não tornar sua existência conhecida a todos que poderiam se beneficiar desse conhecimento?

   Talvez futuramente surjam evidências realmente convincentes de que esse deus existe (quando surgirem, provavelmente o número de descrentes nesse deus cairá drasticamente). Enquanto elas não aparecem, estou plenamente justificado em pensar que o deus dos cristãos não existe, assim como Zeus ou Odim.


(Carlos Wilker)