quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Ninguém Estava Lá Pra Ver

A maioria de nós, que vivemos nas décadas atuais, já ouvimos na TV, no rádio ou lemos num livro, jornal ou revista sobre descobertas científicas. Coisas que ocorreram há milhares, milhões ou até bilhões de anos atrás. Dois exemplos: determinada espécie viveu há X milhares de anos em determinada região do planeta; tal evento ocorreu há tantos milhões de anos. Existem coisas que ninguém ouviu ou viu acontecer. Diante de pronunciamentos como esses, é normal que nos perguntemos: como eles sabem, se ninguém estava lá pra ver? Eu mesmo já me fiz essa pergunta.
Eu vou contar uma história sobre um crime, pra que possamos ter uma resposta clara pra essa questão

Quem é o assassino?

James está sendo acusado de ser o autor de um homicídio.
Encontramos um homem morto numa mata. Era uma área isolada e onde haviam pessoas mais próximas, era numa pequena vila que ficava há quase 50 km. Ninguém viu quem o assassinou. São encontrados duas perfurações de bala calibre 38, na cabeça. Segundo o laudo, ele foi morto há alguns meses. Porém, ninguém sabe de nada, ninguém viu ou ouviu nada!

Perto do corpo, encontramos um celular. Nesse celular, tinham várias fotos de James, de sua família e seus amigos. Isso foi o que nos levou até ele. O que o celular de James está fazendo num local como aquele, ao lado de um homem que foi morto com dois tiros na cabeça? Isso prova que foi ele que o matou? Não, isso não basta. Existem algumas possibilidades: pode ser que o assassino tenha roubado seu celular antes de cometer o homicídio; pode ser que a vítima tenha roubado seu celular; pode ser que alguém esteja armando contra James, etc. Ou seja, o fato do celular de James está no local do crime não prova nada, apenas levanta sérias suspeitas.

Encontramos pegadas de um tênis nike, número 44, perto do corpo. E essas pegadas levam até uma estrada, não muito longe de onde foi encontrado o cádaver. Questionado sobre tais pegadas, James nega que tenha um tênis desse. É um tênis muito vendido, há incontáveis pessoas que usam tal produto pelo mundo. E pelo tamanho, é provável que seja um homem. Nem sempre encontramos mulheres que usam tênis tamanho 44. Claro, há exceções. Através de denuncias anônimas, descobrimos qual é a loja que James costuma comprar calçados. Vamos até lá e constatamos que ele há alguns meses atrás, ele comprou um tênis nike tamanho 44. Há alguma saída pra James? Bem, a balconista pode ter cometido um equívoco, ou talvez seja uma outra pessoa com o mesmo nome, ou alguém realmente querendo armar contra James. Pedimos a loja, que tem sistema de câmeras interno, que nos forneça as gravações do dia da compra do tênis. Adivinha que está na loja nesse dia, fazendo compras? Pois é, a situação de James tá se complicando. No entanto, ele diz que comprou pra presentear alguém. Pode ser.
Perguntado sobre quem foi o sortudo que ganhou o tênis, ele diz que ele viajou para o exterior, que não tem o número do telefone e nem o e-mail dele. Seu nome? Disse que ele se chama Lars. Parentes e amigos seus alegam não conhecer nenhum Lars que seja amigo de James. Muito estranho isso, não?

Encontramos fios de cabelo na cena do crime. E isso não tem nada a ver com a música de Chitãozinho e Xororó, ok?
Através do DNA, descobrimos que aqueles fios de cabelo eram de James. Ele rebate dizendo que quando o homem roubou seu celular, travou uma luta corporal, o que veio a soltar fios de cabelos sobre ele. Realmente, eu não tinha pensado nisso. Pode ser. E uma luta corporal explica as digitais de James sobre a vítima também.

Encontramos uma das duas balas que mataram o homem. Mas de que arma partiu? De quem era essa arma? Moradores da vila que ficava mais próxima encontraram uma revólver calibre 38 no meio da mata. As digitais de James foram encontradas nele. E dessa vez não adianta alegar que foi na luta corporal, por que as digitais da vítima não estavam na arma. É comprovado que aquela bala partiu desse revólver.

Mais investigações concluem que não existe nenhum Lars que seja amigo de James. Claro, ele até pode conhecer algum, mas não alguém que ele presentei com um tênis de 400 reais.
Analisamos os rastros de carros na estrada que ficava mais próxima do local do crime. Coincidência ou não, tem um rastro igual ao do carro de James. Analisando os pneus do carro de James, encontramos resquícios de terra. Comparando a terra da estrada e dos pneus de seu carro, concluimos que é a mesma.
A investigação continua. Não há nada definitivo ainda. Há algumas lacunas, algumas questões em aberto. Porém, tudo indinca que James é mesmo o autor desse homicídio.

Existem coisas que ninguéum viu ou ouviu, mas que deixam vestígios, pistas. Infelizmente, isso nem sempre acontece.
Muitas coisas que aconteceram há muito tempo atrás, deixaram muitos vestígios. Cabe a ciência agir como um detetive que tenta elucidar um caso.

(Carlos Wilker)

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