domingo, 4 de março de 2012

Sobre o Cristianismo

Fomos criados em lares ditos cristãos. Nossa sociedade, nossa cultura, nossa ética, estão impregnados pelo cristianismo. Assim como outras, uma religião repleta de seres e promessas míticas.

Os demônios são seres reais, que povoam os ares. Estas maléficas criaturas são responsáveis por enfermidades, desavenças conjugais, crises financeiras, vícios. Estão a serviço de seu senhor: o Diabo. Assim como Deus tem os anjos pra desempenhar certas tarefas, o Diabo, também tem seus serviçais. A suposta possessão demoníaca é mais cabal prova da existência desses seres.

O céu é a grande recompensa pra quem permanecer fiel. Enfrentando a corrupção desse mundo, pregando as boas novas, morrendo pra si e vivendo pra Cristo, gozaremos de uma eterna felicidade. Cidade celestial, ruas de ouro. Onde não há pranto, morte. Não há melhor anestesia ou conforto do que acreditar piamente que há um céu nos esperando, quando nos deparamos com o medo, com a impotência, com a morte. Perante a nossa finitude, aos nossos desejos, ao que o mundo material nos oferece, nos mostram algo incomparável, impensável! Aquilo que os olhos não viram, é o que está reservado pra os verdadeiros filhos de Deus. Com algo assim, quem se importa com essa vida passageira, podre?

Reservado a quem não acredita que Jesus é nosso senhor e salvador, está o inferno. Agonia, sofrimento e tormento são palavras costumeiramente ligadas a esta recompensa direcionada aos incrédulos, homicidas, homossexuais, idólatras. Este pesadelo está presente em mentes ingênuas, seja da criança que o engoliu goela a baixo, seja de fanáticos, ignorantes, temerosos até mesmo em questionar sua crença. Quando falamos em inferno, nos vem a cabeça chamas ardentes, densas trevas, gritos. E não podemos ignorar o fato de que esse prêmio é infindável. Maneira sublime de amendrontar, encurralar presas indefesas, acuar mentes inquietas e questionadoras! É proibido duvidar. Até podemos, mas com certa cautela. Sabemos que os que duvidam em excesso, serão galardoados com algo nada misericordioso.

Anjos apareceram a Maria pra anunciar o nascimento do Messias. Anjos estiveram em batalhas. Anjos foram mensageiros. Ao desejar que alguém durma bem, dizemos “dorme com os anjos”. Seres alados, alvos como a neves. Assim como os demônios, a aparência se assemelha muito aos humanos. Curioso como as divindades são perecidas conosco! E isso se aplica não só a aparência, como também ao comportamento.

Eu me pergunto: como chegamos ao ponto de guiar nossas vias através de mitos, de fantasias? Eu sei que os mais esclarecidos entendem tais coisas apenas como simbologias, metáforas que nos ensinam alguma mensagem benéfica. Mas isso se restringe a poucos. Na verdade, nossos pensamentos foram invadidos, estuprados por essas coisas que tomaram formas reais. Os demônios, o Diabo e os anjos realmente existem! Gritam inflamados pregadores em seus púlpitos. Há mesmo um céu e um inferno nos esperando! Avisam num tom ameaçador, estes mesmos pregadores cheios de autoridade.

Evidências que existe vida após a morte, imortalidade, céu e inferno? Quem se importa com evidências? Acreditamos e pronto! É verdade por que tá escrito na bíblia. E se a bíblia diz que é verdade é verdade. E quem escreveu? O Espírito Santo inspirou homens de Deusa escrever! Santa ignorância! E as outras religiões que reclamam pra si verdades semelhantes? Farsas! Obras de Satanás pra enganar-nos!

Como podemos nos apoiar em coisas assim? Os demônios, o Diabo e os anjos são tão reais quanto o lobisomem, o Saci, os duendes, as fadas. O que me faz pensar contrário? O céu e o inferno são promessas tão reais quanto a promessa de que existem 72 virgens esperando suicidas fanáticos no além!

O irônico é que aquele que ri de quem se prosta perante uma estátua é o mesmo que conversa com o criador do cosmos todos os dias. O mesmo que graceja com crenças tribais é o mesmo que rege sua vida por elas. O mesmo que entende como folclore e lendas certas figuras, é o mesmo que não consegue (ou não quer) ver que sua religião não se diferencia em nada dos mitos, lendas, folclore, histórias que contamos aos nosso filhos pra eles dormirem.

Virgens dando a luz a filhos concebidos por espíritos, batalhas cósmicas entre deuses, criaturas invadindo nossas mentes, se apossando de nossos corpos, infiltradas em sistemas políticos e religiosos. Como podemos ser tão ingênuos, cegos, fantaciosos e fanáticos ao ponto de acreditarmos piamente e literalmente em coisas assim?

Tudo isso seria muito engraçado, se não fosse trágico.

(Carlos Wilker)

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