quarta-feira, 22 de maio de 2013

As evidências a favor da existência de Deus são fracas



  

     Há uma célebre frase do astrônomo Carl Sagan que diz que afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias. Se eu dissesse a você que hoje fui para a faculdade, isso não causaria nenhum espanto. Afinal, pessoas irem pra faculdade não parece contrariar nada do que sabemos sobre a natureza e isso ocorre incontáveis de vezes em todo mundo. Talvez eu esteja mentido, mas seria normal se você acreditasse nisso. Outra coisa seria eu afirmar que meu cachorro fala fluentemente grego e latim. Isso contraria o que sabemos sobre biologia e não temos relatos ao longo da história de cães que falem fluentemente grego e latim. É muito pouco provável que alguém tenha presenciado tal coisa. Nesse meu segundo exemplo, faço uma afirmação extraordinária e para que alguém acredite nisso, eu devo fornecer evidências extraordinárias.

   A afirmação que existe um ser pessoal que criou tudo que existe, que é imaterial, atemporal, todo-poderoso, onisciente, onipresente, amoroso, que escuta orações e que pune nossos pecados, é sem dúvida uma afirmação incrivelmente extraordinária. Portanto, para que eu possa acreditar em tal afirmação, devo ter evidências suficientemente boas para sustentar minha crença. Na ausência dessa (s) evidência (s) estou plenamente justificando a pensar que tal ser não existe, assim como você estaria plenamente justificado em não acreditar que meu cachorro fale fluentemente grego e latim, caso eu não mostre evidências capazes de corroborar sua crença.

   Penso que minha posição é racional e é adotada por quase todos. Quantas pessoas você conhece atualmente que acredite que o deus grego Zeus ou deus nórdico Odin existam? Mas se você conhecesse evidências que apontassem fortemente para a existência de ambos, provavelmente você mudaria de ideia. O mesmo deve ser feito em relação ao deus dos cristãos.

   Talvez o leitor afirme que existam evidências (Argumento Cosmológico, Argumento Teleológico, Argumento Ontológico, entre outros) capazes de sustentar a crença nesse ser. Bem, isso não parecer ser verdadeiro. Se existem evidências claras que o deus dos cristãos existe, por que há tantas pessoas que não acreditam nesse deus? Podemos citar ateus, deístas, hindus, budistas, agnósticos e muitos outros que não acreditam que o deus dos cristãos exista. Muitos cientistas, filósofos, historiadores e pensadores pensam que tal deus é apenas mais um mito, como tantos outros. Se tais evidências são mesmo convincentes, deveríamos ter ao menos um número consideravelmente menor de descrentes nesse deus. Quantas pessoas você conhece que não acredite na Lei da Gravidade? Particularmente, não conheço ninguém. E isso parece plausível já que há evidências suficientes boas para pensar que essa lei é verdadeira. E em caso de dúvidas, é só pular do 10º andar de um prédio.

  Alguém deve está se perguntando: mas, se não existem boas evidências em favor da existência do deus dos cristãos, por que há tantos que acreditam nele? Essa inversão é mesmo interessante. Eu defendo que a crença nesse deus é algo puramente histórico e cultural. Os antigos gregos e egípcios não tiveram nenhuma relação com esse deus, por exemplo. Acho que muitos concordariam comigo se eu dissesse que a crença em deus normalmente não está apoiada em evidências ou argumentos, mas em experiências pessoais. Outra coisa que é importante saber é que alguns apologistas reconhecem que não há evidências capazes de “provar” a existência de deus. Segundo Doug Krueger (Ph.D. em Filosofia), Karl Barth e Alvin Plantinga estariam entre eles.

   Se você tivesse nascido e vivido entre os antigos gregos, acreditaria em Zeus, Apolo, Atena ou Hades. Se você tivesse vivido entre os Maias, os Astecas ou os Incas, você compartilharia das mesmas crenças religiosas deles. Isso é algo muito óbvio. Se você é cristão é por que nasceu em uma época ou cultura onde o cristianismo tem grande influência. Até mesmo em dias atuais, se você tivesse nascido em outras regiões do mundo, dificilmente você seria cristão. Alguém pode novamente inverter e alegar que o ateísmo também é algo cultural. Eu concordaria, mas não veria como isso implicaria negativamente em meu argumento. Porém, não estou argumentando em favor do ateísmo, mas contra a existência do deus dos cristãos.

   O que me faz sustentar que às evidências em favor da existência do deus dos cristãos são fracas é a inúmera quantidade de pessoas descrentes nesse deus. Isso sem falarmos em muitos povos antigos (antigos gregos, romanos, nórdicos, nativos americanos). Se há evidências que corroboram a existência desse deus ou se sua existência é tão clara, por que tantos não acreditaram ou não acreditam nele? Por que Deus não tornar sua existência conhecida a todos que poderiam se beneficiar desse conhecimento?

   Talvez futuramente surjam evidências realmente convincentes de que esse deus existe (quando surgirem, provavelmente o número de descrentes nesse deus cairá drasticamente). Enquanto elas não aparecem, estou plenamente justificado em pensar que o deus dos cristãos não existe, assim como Zeus ou Odim.


(Carlos Wilker)

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