terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Por que os ateus merecem o inferno?

Sou ateu. Não acredito que exista um deus criador, não acredito em vida após a morte, imortalidade, céu, inferno, diabo, anjos, demônios ou coisas semelhantes. Segundo a bíblia, isso é um ingresso antecipado para o inferno, o tormento eterno. Mas isso é justo? Eu mereço o inferno? Sei que sou suspeito pra falar, mas não acho que eu mereça.

Antes de mais nada, é fundamental que eu esclareça que eu não escolhi ser ateu. Eu não acredito em Deus por que não consigo acreditar mesmo. Eu até já tentei, juro! Mas não dá. Portanto, ser ateu não foi uma decisão. Eu apenas não conseguia mais mentir pra mim mesmo.

Pregam muitos cristãos que o inferno é um “lugar” reservado para o diabo e seus serviçais, os demônios. Porém, Deus apertou um pouco e sobrou espaço pra muitos seres humanos que não aceitarem Jesus como seu salvador.

O que me faz merecedor do inferno? Óbvio, minha incredulidade. Mas isso justifica que eu passe a eternidade sofrendo? Eu vou ser punido por não conseguir acreditar em algo? Eu devo mentir ou fingir? Que culpa eu tenho se acho os argumentos a favor da veracidade da bíblia pouco convincentes? Eu devo fingir que acredito que há mesmo uma imortalidade no céu ou no inferno, se quando pergunto aos cristãos como eles sabem disso, eles ficam enrolando com frases e versículos decorados? Se o Deus cristão vai me mandar pra o inferno por ser sincero e honesto quanto a isso, que mande. Isso mostraria como ele é justo e amoroso.

Talvez você esteja dizendo que Deus não manda ninguém pra o inferno, que somos nós que escolhemos ir pra lá (não, eu não leio a mente das pessoas, é que já estou acostumado com a mesma ladainha). Primeiro, eu não escolhi ir pra lugar nenhum. Se você me diz que o inferno é um lugar de sofrimento, eu não quero papo com ele! Essa história de que as pessoas escolhem ir para o inferno é tão idiota que nem merece muitos comentários. Milhões de judeus, ateus, muçulmanos, budistas, hindus, taoístas e deístas escolheram passar a eternidade sofrendo, junto a seus filhos, amigos e cônjuges, né? Que razão nós temos pra pensar que inúmeros seres humanos escolheram por livre e espontânea vontade passar a eternidade em agonia?Além do mais, se eu não acredito que exista inferno, como eu posso escolher ir pra lá?

Existem muitos ateus que são generosos, honestos, pacíficos. E daí? Vai pro inferno e pronto! Quem manda não acreditar que Maria ficou grávida sem um homem? Quem manda não acreditar que há miríades de demônios nos cercando? Quem manda não acreditar que Eva vivia fofocando com uma cobra falante? Quem manda não acreditar que anjos são reais, enquanto duendes, fadas, lobisomens e sereias são apenas mitos e lendas? Quem manda não acreditar que nossa mente (pensamentos, sentimentos, lembranças) resistirá a destruição do cérebro e que passaremos a eternidade gozando de uma felicidade plena ou colhendo o que plantamos, no inferno? Quem manda você não se convencer com discursos emotivos e frases de impacto? Quem manda você não acreditar na bíblia que a bíblia foi inspirada pelo espírito santo? Aliás, quem manda você não acreditar que o Espírito Santo exista?

Eu não acredito em nada dessas coisas! Por quê? Pra mim, tudo isso se resume a crenças cegas, mitos, lendas, conforto, fulga do mundo real. Eu até entendo que muitos acreditem nessas coisas. Vivemos em um mundo hostil, repleto de injustiças sociais, doenças, somos seres frágeis, limitados e ignorantes. Mas isso não é o suficiente pra que eu acredite. Acreditar é um, ser verdade é bem diferente. As coisas não passarão a existir só por que eu acreditamos. O universo não vai se moldar de acordo com nossos desejos.

Há quem diga que temos o que merecemos. Eu entendo esse critério da seguinte maneira: temos o que merecemos, mediante a nossos atos, gestos e palavras. E existem milhões de pessoas que são extremamente exemplares nesses quesitos. O que define sua sentença é aquilo que você sente ou deixa de sentir. Isso é absurdo!

Fica essa pergunta: por que é justo que os ateus sofram eternamente?


(Carlos Wilker)