segunda-feira, 23 de maio de 2011

Se a evolução é real, por que nenhum chimpanzé evoluiu até ser como nós?

Se a evolução é real, por que nenhum chimpanzé evoluiu até ser como nós?

Série - Evolução


Autor: Homero Ottoni Jr (*)

Chipanzé
Muitas perguntas/desafio de descrentes da evolução apresentam claras lacunas de conhecimento em relação ao que é e ao que não é a evolução. A pergunta/desafio acima, título deste artigo, é uma das mais repetidas, encontrada em quase todo artigo sobre a evolução, nos “comentários” dos leitores.
Esse engano sobre chimpanzés e seres humanos poderia ser desfeito com alguma leitura sobre o assunto e vou tentar resumir aqui a resposta a esta pergunta/desafio.
Primeiro, para que símios como o chimpanzé ou gorila evoluíssem para uma nova espécie, seriam necessários os mesmos milhões de anos que foram necessários para nós. O que significa que nenhum primata poderia “evoluir” para outra espécie. Espécies evoluem, não indivíduos. Nenhum chimpanzé poderia “evoluir” até um ser humano, como nenhuma zebra poderia “evoluir” até um cavalo.
A pergunta/desafio, portanto, está errada. O que ela deveria perguntar (se é que deveria perguntar alguma coisa) é porque os ancestrais destes primatas, como os do chimpanzé, não evoluíram em nossa direção.
A resposta é: porque não há direção.

“Poderiam ser Neandertais a perguntar o que aconteceu com os Homo sapiens que desapareceram no passado”
Os ancestrais dos chimpanzés não “queriam” ser chimpanzés ou Homo sapiens, eles apenas responderam às pressões do meio ambiente. Em nosso caso, as pressões levaram a cérebros grandes e ao andar ereto, enquanto a pressão do ambiente dos chimpanzés os levou a ser o que são hoje.
Mas isso não é tudo. Outros símios, de outras espécies, evoluíram de forma parecida, inclusive com desenvolvimento de algumas características como as do Homo sapiens: inteligência, caminhar ereto, sociedades, etc. Neandertais, por exemplo, existiram ao mesmo tempo em que Homo sapiens; Australopitecus Robustos, ao mesmo tempo em que Australopitecus Afarensis; e algumas outras espécies que conhecemos através dos fósseis.
Ou seja, não somos os únicos. Não fosse o resultado contingente da evolução, poderiam ser Neandertais a perguntar o que aconteceu com os Homo sapiens que desapareceram no passado.
A resposta ao questionamento da pergunta/desafio pode ser vista em diversas famílias de animais. Existem golfinhos, baleias, orcas, belugas, narvais, etc. Todos descendentes de um ancestral em comum, que voltou da terra para a água.
Porque todos eles não se tornaram baleias? Ou golfinhos? Porque as pressões do ambiente variam, a disputa pela vida é intensa e rigorosa. Qualquer grupo que descubra e se adapte a outro ambiente poderá ter alguma vantagem e, ao fim, transformar-se em outra espécie. É por isso que os golfinhos são pequenos e se alimentam de cardumes de superfície, enquanto cachalotes tornaram-se gigantes e se alimentam de lulas igualmente gigantes, a profundidades abissais (que nenhum outro mamífero pode atingir).

“A evolução é cega e contingente”
Mesmo que as pressões ambientais se modificassem e pressionassem chimpanzés a evoluir em nossa direção (dando vantagens a cérebros maiores e ao andar ereto, por exemplo), seriam necessários milhões de anos até que surgisse uma nova espécie. E, ainda assim, ela não seria “humana” e nem mesmo poderíamos saber em que se transformariam. Não há direção.
A pergunta/desafio parece cometer o “engano” recorrente de considerar a evolução como um progresso, onde seres humanos (ou a inteligência) são o ápice, o objetivo a ser atingido. Isso acontece até mesmo com pessoas que acreditam na evolução e no antepassado em comum, mas torna-se fundamental para aqueles que defendem uma divindade maluca que cria tudo, do nada.
Entretanto, a evolução é cega e contingente. Ela segue as pressões do ambiente, pressões não intencionais e variáveis. Hoje mais quente, amanhã mais frio. Hoje um continente único, amanhã placas tectônicas que se separam.
Portanto, não há nenhum motivo para que símios evoluam em nossa direção, ou para que se tornem humanos. Chimpanzés são tão evoluídos quanto os seres humanos, pois existem há tanto tempo quanto, e evoluíram de ancestrais em comum.
Na verdade, todos os seres vivos são tão evoluídos quanto nós. Um pássaro, um réptil, uma bactéria ou um gorila evoluíram tanto quanto nós e se adaptaram tão bem ao ambiente quanto nós.
Repetindo, para responder claramente a pergunta/desafio, não há nenhuma razão para esperar que chimpanzés ou qualquer outro símio evolua ou tenha evoluído como nós, da mesma forma como não há nenhuma razão, biológica ou não, para esperar que a zebra “evolua” para se tornar um cavalo, ou um cavalo “evolua” para se tornar uma zebra. Ambos evoluíram para onde as pressões de seu ambiente os levaram, e apenas isso.

“Andar ereto foi a primeira mudança importante, que apresentava vantagens na savana”
Quem apresenta essa pergunta/desafio são pessoas que, em geral, consideram os seres humanos “melhores” do que os chimpanzés. Somos, na visão delas, “especiais”. Somos criaturas divinas, filhas de uma divindade superpoderosa. Por isso, acreditam que os chipanzés, caso pudessem “escolher”, optariam, sem vacilar, por se tornarem humanos. Consideram que somos mais evoluídos do que eles e – apelando ao conceito errôneo de “progresso” – que a evolução segue um objetivo supremo: formar seres inteligentes, “sapiens” e, de resto, com polegares opositores que lhes permitam segurar e folhear a Bíblia.
Nossos ancestrais, e os ancestrais de algumas outras espécies que já não existem (a competição na natureza é violenta, e dificilmente um mesmo nicho ecológico suporta duas espécies competindo por muito tempo) surgiram na mudança violenta do clima, que quase extinguiu as florestas – habitats de símios como o chimpanzé, gorilas e orangotangos – e criou as extensas savanas africanas.
Nesse novo ambiente, nossos antepassados tiveram de adaptar características já pré-existentes (exo-adaptação, um trunfo da evolução). Andar ereto foi a primeira mudança importante, que apresentava vantagens na savana: o calor e o Sol tinham menor área de atuação, a visão de predadores melhorou, o caminhar permitia que se atingisse pontos mais distantes, etc.
Pensemos no cenário: o que antes era uma África totalmente tomada de florestas tropicais, agora possui bosques e pequenas florestas esparsas, separadas por longos trechos de savana. O tempo passa, as savanas crescem e as florestas diminuem. Nossos antepassados, que antes viviam confortavelmente nas florestas gigantescas, agora têm que atravessar as savanas para encontrar alimento.

“O Homo Sapiens é um caminhante poderoso, um corredor elegante e rápido”
Qualquer individuo que tenha mudanças em seu biótipo, por mínimas que sejam, mas que dêem a ele alguma vantagem nessa travessia, terá melhores chances de sucesso em sua vida e deixará mais descendentes, para os quais transmitirá essa vantagem. Com o passar do tempo (muito tempo, centenas de milhares de anos), teremos indivíduos que andam em pé e transitam mais na savana do que na floresta (qualquer indivíduo que tenha conseguido encontrar alimento na savana, durante as longas travessias, terá mais vantagens adaptativas).
Enquanto isso, ancestrais de outros grupos, vivendo em áreas onde as florestas não foram tão afetadas e, portanto, onde as savanas não vingaram, evoluíram em outra direção, adaptando-se cada vez mais às florestas.
Um adendo sobre alguns mitos sobre nossa espécie. O senso comum considera-nos seres frágeis, fracos e lentos, devido à natural diminuição das exigências de sobrevivência em nossa civilização tecnológica. Nada mais enganoso. Nossos ancestrais – e mesmo nós, atualmente – foram excelentes em diversas habilidades de sobrevivência. O Homo Sapiens é um caminhante poderoso, um corredor elegante e rápido, uma espécie perfeitamente adaptada à vida na savana. Basta ver um chimpanzé “tentando” correr e compará-lo a um humano disputando os 100 metros rasos.
Claro que não somos bons em árvores e um orangotango é um especialista nesse ambiente, mas em uma corrida, de qualquer distância, nós vencemos qualquer primata. E em longas distâncias, vencemos até mesmo outros animais, como cavalos ou guepardos (podemos correr e caminhar por distâncias que matariam um guepardo ou mesmo um leão).

“Andamos pelo mundo e povoamos mais territórios do que qualquer outra espécie”
Outra modificação significativa foi o cérebro grande, evoluído da habilidade manual primata, associada ao efeito colateral de andar em pé. Nossa visão de predador e coletor de frutas (por isso enxergamos colorido), o andar em pé e o cérebro grande, tornou-nos especialistas no ambiente pós-glaciação.
Andamos pelo mundo e povoamos mais territórios do que qualquer outra espécie. Atingimos a África, a Ásia, a Europa e até a América do Norte e do Sul. E isso, muito antes de termos uma civilização tecnológica avançada!
E os antepassados dos gorilas e chimpanzés, onde estavam nessa época? Estavam onde o ambiente havia mudado em outra direção ou onde existiam as pressões evolutivas originais, frente às quais o modo de vida arbóreo e florestal ainda era uma vantagem. Assim, eles evoluíram para adaptarem-se cada vez mais a esse ambiente já conhecido. E, como previsto pela Teoria da Evolução, se o ambiente não muda muito, as pressões seletivas e a espécie também não mudam muito. Ela se especializa.
Espero que esta breve exposição (bem, eu tentei ser breve, mas o volume de dados e informação sobre o assunto é gigantesco) tenha ajudado a esclarecer e a responder a pergunta/desafio (uma entre muitas, baseadas na falta de informação e em erros conceituais).
Não penso que a explicação acima mude a forma de pensar de quem apresenta a pergunta/desafio “por que chimpanzés não evoluíram para seres humanos”. Esta é apenas uma forma de defesa de crenças religiosas. Provavelmente, a maior parte dos que usam a pergunta/desafio apenas mudaria rapidamente de direção, levantando qualquer outra aparente contradição da Teoria da Evolução, escolhida entre as muitas que povoam a mitologia religiosa e o discurso antievolucionista. Mas, ao mostrar que existem explicações satisfatórias, podemos esclarecer aqueles que realmente desejam conhecer e entender as respostas da Ciência.
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Homero Ottoni, programador de computadores. Cursou dois anos de Medicina, quatro anos de Direito e atualmente está na faculdade de Computação.

Fonte: Bule Voador

A questão da complexidade irredutível e o Argumento do Relógio

Um dos mais notáveis argumentos constestatórios do evolucionismo chega a inicialmente fazer sentido, tanto que algumas vezes é defendido por cientistas razoavelmente respeitáveis, geralmente da biologia Celular e Molecular e nem sempre criacionistas, como os defensores do Design Inteligente, que normalmente são Evolucionistas Teístas, embora acabem fornecendo argumentos aos criacionistas.
Diz que devido ao alto nível de complexidade de um sistema, e devido ao fato deste sistema não funcionar sem qualquer uma de suas partes, estas não poderiam ter sido adicionadas em estágios sucessivos, tendo que ser montadas de uma só vez, ou que ao menos sua montagem deveria ter sido intencionalmente planejada. Células são um exemplo típico, qualquer componente que seja retirado prejudica ou mesmo inviabiliza o funcionamento da mesma. Devido a isso, conclui-se que tal célula não pode ter evoluído adicionando componentes em estágios sucessivos, precisaria ser criada com toda a sua estrutura já pronta.
Este seria o caso de um Organismo que não pudesse ser explicado pela Evolução, especialmente Neo Darwinista, o que, como já previa o próprio Darwin, derrubaria sua teoria, e evidenciaria a possibilidade da Teoria da Evolução Darwiniana ser demonstrada como falha e portanto falseável, que é uma característica vital de uma Teoria Científica.
Este é o melhor argumento dos criacionistas em minha opinião, ainda que tenha sido proposto por evolucionistas. Mas numa análise mais acurada, pode-se perceber que afinal, este argumento não suporta a uma analogia tal qual a do relógio, amplamente usada pelos próprios criacionistas.
Na analogia do relógio, adaptada do teólogo do século XVIII Willian Paley, os criacionistas propõem que seria um absurdo achar que um relógio tivesse surgido por acaso, vindo do nada, ou após a explosão de uma fábrica de componentes. Pedaços de metal e vidro teriam que ter voado e se encontrado por coincidência, se fundido e se organizado de forma totalmente aleatória resultando num complexo aparelho. Seria necessária a ação de uma força criadora intencional.
Evidentemente tal raciocínio é correto, mas não se aplica a questão da evolução, pois nenhum organismo complexo surgiu repentinamente na natureza, eles evoluíram de estados iniciais extremamente simples. Além do mais, a complexidade de um artefato da técnica humana como um relógio, é claramente diferente da complexidade de um organismo natural.
Não há na natureza uma simetria comparável à que existe no relógio, nem mesmo no mundo microscópico, apesar de qualquer célula ser muito mais elaborada que a maioria dos artefatos humanos, ela possui uma "engenharia" natural que não pode ser comparada a tecnologia humana. Na mesma explosão da fábrica, não poderia de fato ter surgido um relógio, mas poderia ter se ajuntado uma poça de substâncias básicas, capaz de servir de meio para o desenvolvimento de substâncias químicas primárias, tal como ocorreu nos primórdios da vida na Terra.
Com o mesmo relógio, façamos agora uma analogia com relação a Complexidade Irredutível. Consideremos que seja impossível remover qualquer peça do relógio sem afetar-lhe o funcionamento. Isso pode provar que ele de fato foi construído em sua forma complexa, tal como a célula. Mas será que o primeiro relógio a ser criado por um Ser Humano já tinha essa complexidade?
Quer dizer que o fato de um automóvel moderno, cheio de recursos e dispositivos complicados, não poder funcionar sem qualquer uma de suas peças, prova que o primeiro carro, o modelo T-Ford, já era assim?
Não fora o relógio, assim como o automóvel, resultado de décadas de aperfeiçoamento através de vários modelos progressivamente mais complexos? Não teria sido o mesmo que a natureza fez com as células?
Evidentemente há um ponto a se considerar, relógios e automóveis não se reproduzem como as células, e isso cria uma distância considerável para a comparação. Distância entretanto bem mais sutil que a do exemplo do relógio em relação ao surgimento espontâneo da vida primitiva.
Porém da mesma forma que a célula replica seu padrão, um modelo de automóvel tem seu padrão copiado até que alguma modificação seja feita. No caso do automóvel isso se dá devido a intervenção humana, na célula devido a variações genéticas refinadas pela Seleção Natural. Guardadas as devidas proporções, a comparação é válida. Para os artefatos humanos tivemos um certo desenvolvimento, mediante inteligência, de alguns séculos, para a evolução biológica, quer mediante inteligência ou não, foram bilhões de anos.
A Armadilha da Complexidade
Mas a forma mais refinada do argumento da Complexidade Irredutível foi criada pelo famoso Bioquímico Michael Behe, autor da obra "A Caixa Preta de Darwin". Que ainda que seja um proponente do Design Inteligente, e portanto não criacionista, representa a mais bem articulada frente de combate à Evolução Neo Darwiniana tradicional.
Behe criou uma analogia que representa muito bem toda a idéia. A Analogia da Ratoeira.
Uma Ratoeira pode ser reduzida a basicamente 3 componentes, um dispositivo sensor, um gatilho e uma espécie de prensa que esmaga o infeliz camundongo, ou o dedo do incauto alguém que como eu, certa vez, teve o desprazer de ter tido uma vaga idéia do que o pobre animal deve sentir ao cair nesta armadilha.
Se o sensor que quando pressionado libera o "gatilho", ou o gatilho, na verdade a mola, que empura a "guilhotina", ou esta "guilhotina" que por fim finaliza o processo, forem removidos, a ratoeira inteira para de funcionar. Portanto, a ratoeira seria o exemplo de um sistema irredutivelmente complexo, que não pode prescindir de qualquer uma de suas partes, não funcionando sem uma delas e por isso, deve ser montada por uma inteligência.
Essa analogia é amplamente usada pelos defensores da Complexidade Irredutível como uma forma de demonstrar que certos componentes das células, tidos por eles como irredutivelmente complexos, não poderiam ter evoluído progressivamente, mas sim ter sido montados por uma ação externa.
É importante lembrar que os sistemas irredutíveis destes proponentes são microscópicos, constituindo evidência no máximo de um planejamento a nível biológico primário, portanto nesse sentido, o que os proponentes do Design Inteligente querem dizer é que a base da vida, em especial as moléculas orgânicas primitivas, não podem ter surgido por acaso, mas sim por intermédio de uma inteligência que daria partida ao processo, ou ocasionalmente intervisse em certos estágios do processo evolutivo.
Desse modo esse argumento é pouco útil para os Criacionistas tradicionais, pois ele admite a evolução mediante uma inteligência, suposição a qual simpatizo muito, mas voltando à analogia, o que me sinto na obrigação de admitir é:
"Essa Analogia é uma das mais brilhantes que já vi, mas cujo brilho vai muito além ou aquém do que pode parecer inicialmente."
Pode ser interpretada como um genial Sofisma, ou apenas como um raciocínio tão ardiloso que talvez seus próprios proponentes, inclusive Behe, tenham sido enganados por ela. Ela é tão brilhantemente apropriada que de fato se constitui uma Ratoeira, uma Armadilha, capaz não só de por em xeque um raciocínio evolutivo, o rato para o qual tal armadilha foi montada, mas capaz também de se virar contra seus próprios proponentes, assim como a ratoeira pode esmagar o dedo do humano que a constrói.
O Primeiro ponto a ser considerado é que o exemplo em si não é adequado a uma comparação com organismos biológicos. Nada há na Natureza que possa ser comparado a uma Ratoeira. Diferente de qualquer organismo celular, a Ratoeira não é independente, ela precisa ser rearmada cada vez que é acionada, por um agente externo, o Ser Humano. Os organismos naturais interagem com outros organismos naturais, dessa forma, não há nenhum dispositivo biológico que necessite da intervenção de um agente externo ao seu próprio macro organismo para ser reativado, não tão externo e distante quanto o é um Ser Humano de uma Ratoeira.
Aqui se constitui a primeira armadilha do argumento, uma vez usado, não raro o alvo, o evolucionista não teísta, cai na ratoeira, sendo levado a um campo de raciocínio onde o Design Inteligente fica em nítida vantagem, o campo humano, onde a ação intencional e inteligente sobre mecanismos inertes é constante. É muito diferente do campo biológico onde todos os organismos não são inertes, mas auto gerenciados, e onde a intervenção de uma ação intencional e inteligente externa, se existe, é simplesmente indetectável.
Capturado na analogia, o "ratinho" evolucionista fica numa cadeia de analogias e associações com elementos que escapam do biológico. Trata-se então de uma ratoeira linguística, que desloca a discussão para um campo onde o raciocínio do Design Intencional pode usar inúmeros recursos.
Para não cair na armadilha, deve-se evitar ir "com muita fome ao queijo", e desconstruir o próprio argumento em si.
Como eu disse, na Natureza não há exemplos comparáveis a uma Ratoeira. Os sistemas orgânicos são interrelacionados com outros sistemas orgânicos de ordem similar. Temos em nosso próprio corpo sistemas que se ativam sobre determinadas circunstâncias, tais como as ratoeiras, mas eles são rearmados por outros sistemas, como se uma ratoeira não fosse rearmada por um Ser Humano mas sim por um outro dispositivo mecânico talvez um pouco mais complexo, que por sua vez seria manipulado por outro, e outro, numa interconexão de mecanismos que acabaria por se constituir numa máquina de alta complexidade, e onde a intervenção de uma inteligência externa ficaria cada vez mais distante.
Se construirmos robôs suficientemente sofisticados, com avançada inteligência artificial e com ordens de se reproduzir e se aperfeiçoar, podemos deixá-los se desenvolver por si próprios, e após milhares ou milhões de anos, talvez eles estejam completamente diferentes e até se questionando sobre suas origens. Por isso, o máximo que a Complexidade Irredutível poderia apontar com alguma propriedade, seria a possível ação de um Ser Criador num estágio muito remoto do passado. Seria uma forma de Deísmo, a idéia de que Deus deu partida na Criação do Universo e depois o abandonou a própria sorte.
Devo dizer que isso é válido, por isso respeito os adeptos do Design Inteligente, mesmo porque eu pessoalmente tenho uma inclinação ao Evolucionismo Teísta. Mas reitero que esse raciocínio não interessa, ou não deveria interessar a seus maiores usuários, os Criacionistas.
Mas é hora de reverter a eficiência dessa ratoeira, e mostrar que ela pode ser inimiga também de seus proponentes, pois se é dito que uma ratoeira é um sistema irredutívelmente complexo, que só faz sentido quando existindo em conjunto, estamos dizendo também que cada módulo deste sistema só pode servir para a função completa da ratoeira. Estamos dizendo que molas, sensores e "guilhotinas" só servem para construir ratoeiras e nada mais, o que evidentemente é uma tolice.
Se removermos o mecanismo que esmaga a vítima, o aparelho deixa de ser uma Ratoeira, mas continua sendo um sensor. Existem milhares de aplicações para um sensor que não sejam disparar golpes fulminantes. Se removermos um sensor, deixamos de ter uma armadilha, mas temos muitos outros usos para dispositivos de tensão pressionadores.
Muito antes de alguém inventar uma ratoeira, já havia alavancas e molas, e aparelhos semelhantes com outras funções. Se nos deixarmos cair na "Ratoeira de Behe", teremos que admitir que esses dispositivos só servem para construir tais armadilhas, e que só surgiram após o a primeira ratoeira ser imaginada.
Além disso esse argumento ataca a Evolução, que prega a construção passo a passo da complexidade orgânica, o que por si só também já gera outro problema, pois mesmo uma ratoeira não é construída instantaneamente e completamente pronta num passe de mágica, ela precisa ser montada peça por peça.
Mesmo que a Ratoeira não tenha uma relação precisa com organismos naturais, é fácil construir uma analogia que esvazia o teor do argumento.
Antes de ser uma Ratoeira, o dispositivo poderia ser um mero sensor que avisasse que um rato, ou outro animal está presente, para que se tome outra providência, ao mesmo tempo que a "guilhotina" poderia ter funções como segurar ou cortar objetos. Então alguém teve a idéia de unir tais dispositivos.
Analogamente um organismo natural pode ter uma função e depois, com o surgimento de outro elemento, mediante variação genética, assumir uma função diferente. Portanto se reduzirmos o dispositivo complexo ele pode deixar de ter sua função inicial, mas pode assumir outra.
Por tudo isso, a analogia da Ratoeira representa com perfeição o argumento da Complexidade Irredutível, ela parece eficiente, mas é uma armadilha sofismática, que pode ser usada tanto a favor quanto contra seus proponentes.
Em suma, a proposta da Complexidade Irredutível embora razoável, não passa de uma especulação filosófica, sem qualquer força para abalar a Teoria da Evolução, mesmo que se demonstrasse infalível. Porém como espero ter demonstrado, o feitiço pode virar contra o feiticeiro, e o argumentista prender seu próprio dedo na ratoeira.
Marcus Valerio XR
http://www.evo.bio.br/LAYOUT/Complex.html

A acalorada questão da Termodinâmica

Uma acusação comum entre os Criacionistas é de que a Teoria da Evolução violaria Leis fundamentais da Física, mais especificamente da Termodinâmica. Analisemos o texto de um Criacionista famoso, membro do Institute for Creation Research de Henry Morris, o criador do argumento, e que pode ser recorrentemente encontrado em qualquer site criacionista.
 
"A teoria da evolução transgride duas leis fundamentais da natureza: a primeira e a segunda Lei da Termodinâmica. A Primeira Lei declara que não importa que mudanças se efetuem, nucleares, químicas ou físicas, a soma total da energia e da matéria (realmente equivalentes) permanece constante. Nada atualmente está sendo criado ou destruído, embora transformações de qualquer espécie possam acontecer. A Segunda Lei declara que cada alteração que acontece tende natural e espontaneamente a sair de um estado ordenado para um estado desordenado, do complexo para o simples, de um estado de energia alta para um estado de energia baixa. A quantidade total de casualidade ou desordem no universo (a entropia é uma medida dessa casualidade) está constante e inevitavelmente aumentando. Qualquer aumento na ordem e complexidade que possa ocorrer, portanto, só poderia ser local e temporária; mas a evolução exige um aumento geral na ordem que se estenda através dos períodos geológicos.(...)

Considerando que o universo, como um relógio, está se deteriorando, é óbvio que ele não existiu eternamente. Mas de acordo com a Primeira Lei, a soma total da energia e matéria prima é sempre uma constante. Como podemos, então, numa pura e simples base natural, explicar a origem da matéria e da energia das quais este universo é composto. A continuidade evolucionária, do cosmos ao homem, é criativa e progressiva, enquanto que a Primeira e a Segunda Lei da Termodinâmica declaram que os processos naturais conhecidos são quantitativamente conservativos e qualitativamente degenerativos. Em qualquer caso, sem exceção, quando essas leis foram sujeitas a testes foram comprovadas válidas. Os exponentes da teoria evolucionista ignoram assim o observável a fim de aceitar o inobservável (a origem evolucionista da vida e das principais espécies das coisas vivas)."
Duane T.Gish
Ph.D.
Diretor adjunto do Instituto para Pesquisas sobre a Criação, em San DiegoEsse argumento representa bem a forma como tal questão é proposta pelos criacionistas, antes de analisá-lo porém, vejamos o que é Termodinâmica, quais são suas Leis e principalmente a palavra chave de toda a questão, ENTROPIA. Usarei como base a Enciclopédia Britânica do Brasil.
TERMODINÂMICA   É a parte da Física que estuda o comportamento e as transformações de Energia que ocorrem na natureza. Mais especificamente, estuda as relações de Equilíbrio entre estados energéticos, cujas principais fontes de manifestação são o CALOR e o MOVIMENTO.
Energia, é puramente o potencial de um corpo em produzir alguma ação, Trabalho.
A Termodinâmica determina basicamente 3 Leis, ou Princípios, Fundamentais.
 
1 - PRINCÍPIO DE CONSERVAÇÃO DE MASSA E ENERGIA   Vulgarmente conhecido pela máxima: "NADA SE CRIA NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA." Diz respeito ao fato de que a Energia não pode ser criada ou destruída, mas sim convertida de uma forma para outra. Obviamente o conceito também é válido para a Matéria, justificando a frase popularmente conhecida como Lei de Lavoisier.
De forma mais elaborada, diz que na transformação de Calor em Trabalho e vice-versa, as quantidades inicial e final de Calor e Trabalho são equivalentes, e que a soma total do potencial energético de um Sistema Fechado é a mesma antes e depois de uma transformação.
Sistema Fechado é um que não sofre interferência externa, não perdendo nem ganhando energia para o exterior.
Como exemplo de um sistema aberto podemos citar o hábito de esfregar as mãos para aquecê-las. O movimento é Energia Cinética, que sofre reação do atrito entre as mãos. Essa energia de movimento retirada pelo atrito é convertida em Calor.
Deve-se tomar cuidado ao tentar observar esse fenômeno no dia a dia, pois TODAS as transformações cotidianas envolvem sistemas abertos, onde não é possível verificar a totalidade de energia convertida devido a esta se espalhar para diversos outros meios inclusive o Ar.
 
2 - PRINCÍPIO DE DEGRADAÇÃO DE ENERGIA   Vulgarmente chamado de Lei de Entropia, afirma que embora seja possível transformar Totalmente qualquer tipo de energia em Calor, não é possível transformar Calor Totalmente em qualquer outra forma de energia, pois parte dela volta a ser Calor.
Todas as formas de energia tendem a se converter em Calor, que é um estado de vibração molecular da matéria, e também é a forma mais degradada de energia. Esse estado de movimento das partículas é totalmente desordenado, sendo chamado de ENTROPIA.
Sendo assim num sistema fechado, a tendência geral da desordem molecular, Entropia, não pode diminuir. Embora tal possa ocorrer em partes do sistema. Ou seja, num SISTEMA FECHADO, a Entropia que caracteriza o Calor não pode diminuir, e sim manter-se constante ou aumentar devido a outras formas de energia se transformarem em Calor.
 
3 - Terceiro Princípio, do "REPOUSO ABSOLUTO"   Propõe que na temperatura de ZERO ABSOLUTO, 0o Kelvin, que equivale a cerca de -273,15o Centígrados no sistema Celsius, o estado de agitação molecular, a Entropia, tende a Zero. Esse princípio é útil para estabelecer fórmulas que permitam cálculos termodinâmicos, definindo um parâmetro que permite a medição da Entropia de um sistema.
Vale lembrar que não se verifica essa temperatura na natureza e jamais se conseguiu atingi-la em laboratório.

A simples leitura destas Leis, sem distorções, já abala toda a afirmação do Criacionista citada acima, embora esta sem dúvida impressione uma pessoa desavisada.
Agora vamos destacar alguns trechos da afirmação do Dr. Duane T. Gish.
"A teoria da evolução transgride duas leis fundamentais da natureza: a primeira e a segunda Lei da Termodinâmica.
Vejamos. E lembremos que esta afirmação parte de um Criacionista.
 
...APrimeira Lei declara que não importa que mudanças se efetuem, nucleares, químicas ou físicas, a soma total da energia e da matéria (realmente equivalentes) permanece constante . Nada atualmente está sendo CRIADO ou destruído, embora transformações de qualquer espécie possam acontecer.
 
Observe bem e pense. A Primeira Lei, Princípio, em sua forma mais simples afirma que NADA, nem Energia nem Matéria, pode ser Criada, apenas transformada. Evolução evidentemente é transformação.
A Teoria da Evolução propõe que a vida na Terra evolui progressivamente através de diversos recursos, inclusive mutações, que são transformações. Ela não propõe que estejam sendo criadas matéria e energia continuamente no Universo, mas apenas que esta matéria e energia estão se transformando em formas mais complexas, mais elaboradas, assim como água, areia, madeira e metal podem se tornar uma casa.
Sendo assim, onde a Teoria da Evolução entra em conflito com a Primeira Lei?!?!
Mas o mais impressionante é que essa afirmação vem de um CRIACIONISTA, que propõe que a Terra foi CRIADA por Deus a partir do NADA!!!
Ou seja, propõe que toda a Matéria e Energia do Universo foram CRIADAS!!! E este autor utiliza um estratégico atualmente para justificar o fato de que talvez tal Lei não se aplique aos "momentos" da CRIAÇÃO.
Afinal entre o Criacionismo e o Evolucionismo, quem viola a Primeira Lei?!
A Teoria da Evolução não aborda diretamente a Criação do Universo. Isso é feito pela Teoria do BIG BANG, também sob ataque de Criacionistas. E o que a Teoria do Big Bang faz é afirmar que a matéria sempre existiu, ainda que totalmente condensada num único Super Átomo. O que havia antes do Big Bang não é objeto de estudo da Ciência.
A proposta Criacionista viola inevitavelmente a Primeira Lei, ainda que num momento singular do passado, ao propor a "Criação" do Universo. Mesmo que Deus tivesse criado o mundo a partir de alguma matéria primitiva, o que não tem base bíblica, Ele teria promovido uma transformação excessivamente radical, ao construir o mundo em 6 dias, e ao criar o Homem diretamente a partir do barro e os animais de alguma outra coisa. Transformações termodinamicamente absurdas.
...A Segunda Lei declara que cada alteração que acontece tende natural e espontaneamente a sair de um estado ordenado para um estado desordenado , do complexo para o simples, de um estado de energia alta para um estado de energia baixa.
Basta um simples leitura sobre a Segunda Lei para perceber que essa afirmação está errada. A Segunda Lei se refere apenas a um estado relacionado ao Calor, não dizendo nada sobre outras formas de complexidade, muito menos sobre a complexidade organizacional biológica ou sobre a ordem global de um sistema.
Mas vejamos o porquê desta confusão.
 
...A quantidade total de casualidade ou desordem no universo (a entropia é uma medida dessa casualidade) está constante e inevitavelmente aumentando. Qualquer aumento na ordem e complexidade que possa ocorrer, portanto, só poderia ser local e temporária; mas a evolução exige um aumento geral na ordem que se estenda através dos períodos geológicos.(...)
 
Ao me deparar com o nível de incoerência desta frase, fico pensando se o título de PhD do Dr. Duane não significa alguma outra coisa que não Philosofic Doctor. A Segunda Lei não se refere a casualidade ou ordem de qualquer outra coisa que não seja o estado de vibração molecular, ela não se relaciona a organização das Galáxias, Sistemas Estelares, ecossistemas ou arquitetura orgânica.
Além do mais, mesmo que se referisse, a maior organização de nosso planeta, sistema estelar ou das galáxias poderia muito bem ser local e temporária, uma vez que o Universo é imensuravelmente maior.
Mas como podemos ver, toda a Confusão está contida na confusa palavra ENTROPIA. Vejamos seu significado.
 
Entropia. [Do gr. entropé, ‘volta’, + -ia.] S. f. Fís.
Função termodinâmica de estado, associada à organização espacial e energética das partículas de um sistema, e cuja variação, numa transformação deste sistema, é medida pela integral do quociente da quantidade infinitesimal do calor trocado reversivelmente entre o sistema e o exterior pela temperatura absoluta do sistema.
NOVO DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA - AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA, Editora NOVA FRONTEIRA.
 
entropia, s. f. Fís. Quantidade de energia de um sistema, que não pode ser convertida em trabalho mecânico sem comunicação de calor a algum outro corpo, ou sem alteração de volume. A entropia aumenta em todos os processos irreversíveis e fica constante em todos os processos reversíveis.
DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA - ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA DO BRASIL
entropia
do Fr. entropie < Gr. entropé, mudança, volta
s. f., (Fís.),

grandeza física que traduz o estado de um sistema termodinâmico, definida, num processo reversível, como a razão entre a variação da quantidade de calor do sistema e a temperatura absoluta à qual ocorreu essa variação;
medida estatística do grau de desordem de um sistema fechado;
medida da eficiência de um sistema na transmissão de informação;
desordem;
falta de organização.
DICIONÁRIO UNIVERSAL DA LÍNGUA PORTUGUESA (on-line) - TEXTO EDITORAwww.priberam.pt/dlpo/

entropia
1
Rubrica: física.
num sistema termodinâmico bem definido e reversível, função de estado cuja variação infinitesimal é igual à razão entre o calor infinitesimal trocado com meio externo e a temperatura absoluta do sistema [símb.: S]
2 Rubrica: física.
num sistema físico, a medida da energia não disponível para a realização de trabalho
3 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: biologia.
medida da variação ou desordem em um sistema
4 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: comunicação.
medida da desordem ou da imprevisibilidade da informação
DICIONÁRIO ELETRÔNICO HOAUISS DA LÍNGUA PORTUGUESA

Como podemos ver os termos desordem e falta de organização são derivações do sentido original, significações secundárias, isto é, uma espécie de analogia. Ou seja:
ENTROPIA NÃO É SINÔNIMO DE DESORDEM, CASUALIDADE, E MUITO MENOS DE BAIXA COMPLEXIDADE!
O termo Entropia é sem dúvida a razão de toda a confusão, pois não é um conceito simples. De fato, Entropia se relaciona com Calor, mas o Segundo Princípio se refere OBRIGATORIAMENTE a um SISTEMA FECHADO. Em síntese:
A SEGUNDA LEI EM NADA SE RELACIONA A TEORIA DA EVOLUÇÃO.

Porém é preciso um esforço maior para entender o real conceito de Entropia e da Segunda Lei, como veremos adiante. Voltemos a analisar o texto do Dr. Gish.
 
Considerando que o universo, como um relógio, está se deteriorando, é óbvio que ele não existiu eternamente. Mas de acordo com a Primeira Lei, a soma total da energia e matéria prima é sempre uma constante. Como podemos, então, numa pura e simples base natural, explicar a origem da matéria e da energia das quais este universo é composto. ?
 
Numa simples base natural não podemos explicar a origem da matéria e da energia. A Ciência não se ocupa de questões que estejam fora do alcance da medição e observação direta ou indireta dos fenômenos, nem daquelas as quais não há base para cálculos. Isso é trabalho da Filosofia.
...A continuidade evolucionária, do cosmos ao homem, é criativa e progressiva, enquanto que a Primeira e a Segunda Lei da Termodinâmica declaram que os processos naturais conhecidos são quantitativamente conservativos e qualitativamente degenerativos.
Não é verdade! A "continuidade" Evolucionária não é "Criativa", é apenas Evolutiva. Evolução é transformação. Transformações são apenas "termicamente" degenerativas, isso não se aplica a qualquer outra coisa.
...Em qualquer caso, sem exceção, quando essas leis foram sujeitas a testes foram comprovadas válidas. Os exponentes da teoria evolucionista ignoram assim o observável a fim de aceitar o inobservável (a origem evolucionista da vida e das principais espécies das coisas vivas)."
E assim o raciocínio do Senhor Duane T. Gish se encerra, corando um desfile de inconsequência científica com uma acusação sem o menor fundamento. Mais interessante é ser ele um Criacionista, que crê na Criação Divina, um fenômeno só menos observável que o próprio Apocalipse.
E agora tentemos elucidar essa complexa questão da ENTROPIA.
 

[Image]
Imaginemos nosso Sistema FECHADO, que não troca energia com o meio externo. Uma caixa de ar com um palito de fósforo. O ar está a uma certa temperatura, e possui então um certo nível de Entropia, que é o estado de agitação molecular das partículas do ar. [Image]
Riscando o palito, a pólvora, que possui energia química, entra em combustão devido a fricção causada pela energia cinética, movimento. Consideremos as paredes internas como ásperas. (Obs: palitos de "fósforo" caseiros não possuem o elemento químico Fósforo (P) verdadeiro, apenas pólvora seca. [Image]
A Entropia em torno do palito em chamas é maior que a do restante do sistema, assim como o calor. Energia cinética e energia química foram convertidas na forma mais degradada de energia. Esse processo é irreversível, não se pode transformar o calor de volta em pólvora. [Image]
Mas com o tempo o sistema vai se equilibrando, o maior calor e entropia em torno das chamas se espalha. O palito se apaga e as temperaturas antes diferentes vão se misturando. O mais importante é que se trata de um sistema FECHADO! Caso contrário ele perderia esse calor para o meio externo. [Image]
Como a Primeira Lei impede que a energia se perca, a temperatura final do sistema será maior que a inicial, e também a Entropia, que a Segunda Lei impede que diminua. Agora o sistema tem menos potencial de transformação do que antes, é menos ordenado, é mais Entrópico. Porém essa situação é hipotética. NÃO EXISTEM Sistemas Fechados na natureza, nem mesmo em laboratórios! Sempre há troca para o meio externo, o que permite que a Entropia dentro do sistema possa diminuir. Sendo assim, para quê uma Lei que não funciona na realidade? Porque ela é útil para estabelecer um parâmetro para cálculos, assim como a Terceira Lei, que determina que em certas condições a entropia de um sistema poderia ser Zero, embora isso também não se verifique na natureza. [Image]
Entropia e Calor não são sinônimos, e nem exatamente aumentam em proporção direta. Se por exemplo aumentássemos o volume do sistema reduzindo a pressão, a temperatura cairia, mas o sistema continua sendo considerado mais Entrópico que no estado inicial mesmo que a temperatura fosse menor, pois Entropia é um medida de reversibilidade da transformação. Diz apenas que neste atual sistema, produzir outra forma de energia que não calor "é menos possível" que no estado inicial. Ou seja, Entropia é a quantidade de energia calorífica que não pode mais ser convertida em outra forma de energia. É uma medida do nível de Irreversibilidade. [Image] Nem mesmo toda a Terra é um sistema fechado. Ela recebe energia do Sol, de raios cósmicos e até matéria na forma de meteoros. Também perde calor e gases para o espaço, e recentemente até matéria sólida, ao mandarmos naves espaciais para fora.
Portanto a alegação dos Criacionistas de que a Evolução viola a Segunda Lei é ABSOLUTAMENTE ERRADA! Primeiro por que a TERRA NÃO É UM SISTEMA FECHADO, e segundo por que ENTROPIA nada tem haver com COMPLEXIDADE DE SISTEMAS, com CASUALIDADE em geral ou com ORGANIZAÇÃO que não seja a nível de partículas.
Alguns Criacionistas afirmam que por receber do Sol apenas Calor, a forma mais desordenada de energia, não poderia haver aumento de complexidade no planeta. Porém a Terra não recebe apenas Calor, mas também LUZ, o que não é a mesma coisa, assim como Raios Ultravioletas, Prótons livres que sustentam toda a cadeia Carbônica da Terra e diversas outras frequências de radiação não só do Sol.
Além disso, ela não recebe esse calor por igual, algumas partes recebem mais que outras o que por si só já gera situações distintas em diferentes áreas do planeta.
Pior! Mesmo que a Terra fosse um sistema fechado, ela poderia sim desenvolver áreas isoladas onde a Entropia diminuísse em relação a outras, como o centro do planeta por exemplo, que é a parte mais quente.
Há bilhões de anos atrás a temperatura do planeta era muito maior, grande parte desse calor foi convertido em outras formas de energia, mas não todo é claro, pois é isso que proíbe a Segunda Lei, e parte do calor se perdeu para o espaço.
Enquanto os Criacionistas tentam deturpar a Evolução e as Leis da Termodinâmica, dado ao nível de estabelecimento da Teoria da Evolução e da dificuldade de interpretação da Segunda Lei, acho mais fácil que a Segunda Lei é que venha a ser reformulada do que ela derrubar a Teoria da Evolução, sonho dourado dos Criacionistas.
 
CONCLUSÃO  A TEORIA DA EVOLUÇÃO NÃO VIOLA E JAMAIS VIOLOU QUALQUER LEI DA FÍSICA, MUITO MENOS AS DA TERMODINÂMICA. O CRIACIONISMO É QUE VIOLA DIRETAMENTE A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA, E QUASE TODAS AS OUTRAS LEIS DA NATUREZA. CONSIDERAR QUE A EVOLUÇÃO VIOLA LEIS DA NATUREZA SÓ É POSSÍVEL A PESSOAS QUE NÃO TEM CONHECIMENTO SOBRE EVOLUÇÃO OU SOBRE TAIS LEIS. ISSO É COMPREENSÍVEL POR PARTE DE LEIGOS MAS JAMAIS POR PARTE DE CIENTISTAS. O DOUTOR DUANE T. GISH, PHD EM BIOQUÍMICA DA UNIVERSIDADE DE BERKELEY E CRISTÃO BATISTA FUNDAMENTALISTA, OU NADA ENTENDE SOBRE TERMODINÁMICA E/OU ESTÁ BRINCANDO, INDEPENDENTE DE SEU TÍTULO, TENDO UMA BOA VOCAÇÃO PARA A COMÉDIA. SINTO MUITO!  Entretanto é compreensível alguma confusão. O termo Entropia vem sendo desentendido desde que as Leis da Termodinâmica foram descobertas. Se extrapolarmos muito o significado de Entropia podemos sim compará-la a qualquer outro tipo de ordem e desordem, mas perde-se o pleno apoio da Termodinâmica. E mesmo que não ocorresse, a acusação dos Criacionistas sempre irá esbarrar no intransponível obstáculo de que nem a Terra , nem o Sistema Solar, nem mesmo a Via-láctea inteira, pode ser considerada um sistema fechado. O único sistema fechado seria todo Universo, e mesmo isso é duvidoso, principalmente se este for Infinito.
Há ainda uma outra ardilosa manobra dos Criacionistas para atacar não e exatamente a Teoria da Evolução, mas as da origem do Universo. Trata-se de jogar as Leis da Termodinâmica umas contra as outras. Uma observação notável por sinal.
O Primeiro Princípio declara indiretamente que a matéria e energia do Universo sempre existiram e sempre existirão, afinal nada pode ser criado ou destruído. Portanto, o Universo seria Eterno.
Por outro lado a Segunda Lei declara que, se sendo o Universo um sistema fechado, estaria em irreversível aumento de Entropia. O que o levaria à morte térmica. Portanto a Entropia inicial do Universo deveria ser Mínima, apesar do Calor ser Máximo.
Todavia a Terceira Lei coloca que a Entropia Mínima só é possível numa Temperatura Mínima.
De fato esse questionamento é, filosoficamente, válido. E eu e vários filósofos concordamos plenamente com a existência de uma intervenção externa ao Universo conhecido. É uma pena que ao invés de considerar várias possibilidades para essa Entidade externa, como um Supra-Universo, uma Consciência impessoal, uma outra dimensão física, um Deus Panteísta ou mesmo um Deus Monoteísta numa visão teológica mais abrangente, a maioria dos Criacionistas irá levar tal raciocínio inevitavelmente em direção ao Jeová Bíblico e suas exigências de sacrifícios de animais e ameaças de punição eterna.
Esse argumento é inclusive usado pelos Criacionistas para atacar a Teoria do Big Bang.
Simples falta de melhor conhecimento. De acordo com o modelo do Big Bang, no princípio o Universo encontrava-se totalmente concentrado num Hiper-Átomo, num momento chamado Singularidade. Se a Segunda Lei exige que a Entropia do Universo nunca diminua, seria um momento de Entropia Zero? Apesar de todo o Calor concentrado em um só ponto a um nível máximo? Violando agora o Terceiro Princípio?
Nada disso.
Não havia espaço nem tempo até que subitamente o Universo começou a se expandir. Como toda a física se baseia na natureza observável no Espaço-Tempo, antes do Big Bang portanto, não existiam Leis da Termodinâmica ou quaisquer outras Leis.
Elas só passaram a valer após a Grande Explosão.
 
Marcus Valerio XR
http://www.evo.bio.br/LAYOUT/termo.html

Quem surgiu primeiro: o ovo ou a galinha?

Essa questão é uma alegoria que transcende sua simples interpretação biológica, podendo ser chamada de paradoxo cíclico de causa e efeito, ou seja, algo de cuja existência depende outra, que por sua vez é a causa da existência de algo, tal como: "O que surgiu primeiro: O Ser Humano ou a Cultura Humana?" Mas interpretando-a de forma mais literal, é curioso que Criacionismo e Evolucionismo apresentam respostas claras e divergentes, diferente do senso comum que normalmente vê a questão como sem solução.
Pela Bíblia, tudo leva a crer que a Galinha, assim como os outros animais ovíparos, passou a existir em primeiro lugar, no ato da Criação, já com a capacidade de botar ovos. Portanto, pelo ponto de vista Criacionista temos a Galinha como antecessora do Ovo.
Pelo ponto de vista Evolucionista, sabemos que ocorreu todo um processo de evolução até que determinados animais que já nasciam de ovos, viessem a se transformar nas aves, incluindo o animal que mais tarde, graças a intervenção humana, viria a constituir em nossa conhecida Galinha. Sendo assim, o Ovo, por ser mais antigo na natureza, antecede a Galinha, e mesmo às aves, os dinossauros e peixes, tendo evoluído simultâneo às espécies como elemento integrante do sistema reprodutor.
Ovos e Galinhas podem render bastante discussão entre Criacionistas e Evolucionistas.
Em palestras do Dr. Duane T. Gish em Brasília, minha cidade, que tive o prazer de acompanhar, o bem humorado criacionista fez uma brincadeira com a idéia do Super Átomo Primordial que seria matriz do Big Bang, chamando-o de "Ovo Cósmico". Alegando então que ninguém sabe dizer exatamente de onde teria vindo este "Ovo", ironizou que alguns sugeriram uma "Galinha Cósmica".
Não sei se outros pensaram assim mas me veio imediatamente a idéia de que chamaram Deus de Galinha. O que poderia até fazer um certo sentido, talvez Deus viva percorrendo o UNIVERSO chocando Universos por toda parte.
Brincadeiras à parte, o que pretendo abordar aqui é na verdade as alegações criacionistas de que não haveriam evidências para espécies transicionais ancestrais das aves. A maioria dos Criacionistas insiste que o Evolucionismo propõe surgimentos bruscos de espécies novas, ou seja, que de repente de um ovo de réptil tivesse surgido a primeira ave, completa, como as conhecemos hoje. Alguns inclusive, num espírito satírico, dizem que deve ter sido um tremendo susto para a mamãe réptil ter tido um filhote ave!
Curiosamente o surgimento das aves talvez seja o capítulo da Evolução mais bem documentado pela evidência fóssil, só perdendo talvez para a evolução Humana. As aves evoluiram, agora já se sabe, diretamente dos dinossauros, como vários fósseis transicionais demonstram, e as descobertas mais recentes que levaram a essa conclusão alteraram radicalmente e em poucos anos o modo como concebemos os grandes "répteis" do passado.
Tomei como base para este texto a brilhante reportagem da Scientific American de Abril de 2003, que apresenta a matéria de capa "Penas de Dinossauros".
QUE "PENA" PARA SPIELBERG
Se o famoso filme Jurassic Park fosse refilmado hoje de acordo com as novas descobertas teria que sofrer alterações drásticas, principalmente pelo fato que muito provavelmente os dois grandes astros digitais do filme, o Tiranossaurus Rex e o Velociraptor, teriam que ser recobertos de penas!
Quanto ao Velociraptor isso já é praticamente certo. A presença de penas em algumas espécies de dinossauros clareou ainda mais as suas relações com as aves, e a descoberta de fósseis mais recentes permitiu montar um quadro bem mais claro dos estágios evolutivos que levaram ao surgimento das aves.
Antes o Arqueopterix era o melhor exemplo de fóssil transicional entre dinossauros e aves, agora perdeu esse lugar para o Microraptor, descoberto em 2002 na China, e que apresentava 4 asas, ou seja, tinha não só braços mas também pernas aladas.
Mas o Microraptor e o Arqueopterix são apenas dois entre dezenas de exemplos documentados por evidência fóssil de espécies que possuem tanto características de Dinossauros, que ainda consideramos répteis, quanto de aves. Muitas destas espécies eram muito provavelmente dotadas da habilidade de planar, um pré-vôo, assim como o são muitas das espécies atuais mais exóticas encontrados em locais mais remotos do mundo.
Assim, além destes, criaturas como o Sinornithossauro ou o Enantiornithines são o que podemos chamar de Espécies Intermediárias entre Dinossauros (répteis), e Aves. As mesmas espécies intermediárias, ou Transicionais, que os Criacionistas insistem em dizer que nunca existiram.
QUE "PENA" PARA O CRIACIONISMO
Um dos baluartes argumentativos do Criacionismo contra a Evolução é alegar a ausência de fósseis transicionais, ou seja, que representam animais que reuniam características de dois grupos diferentes, no caso, Répteis e Aves.
Pelo Evolucionismo, a Aves teriam evolúido dos Répteis, havendo então uma continuidade entre essas duas classes de animais. Porém, os animais intermediários estão extintos, razão pela qual as duas classes parecem bastante separadas uma da outra. Os répteis seriam a classe mais antiga, tanto que se encontram fósseis de mais de 65 milhões de anos, o que não ocorre com as aves, cujos fósseis são bem mais recentes.
Desde Darwin, previu-se que fósseis destas espécies deveriam ser encontrados, o que confirmaria fortemente a teoria. E aqui está o pomo da discórdia, pois a existência destes fósseis é de vital importância.
A absoluta maioria da comunidade científica não tem nenhum resquício de dúvidas em afirmar que centenas fósseis transicionais incluindo entre répteis e aves já foram encontrados, estudados e catalogados, constituindo confirmação inegável da Teoria da Evolução.
Descobertas recentes feitas na China presentearam os cientistas com diversas espécies intermediárias que permitem agora uma visão muitíssimo mais clara do processo evolutivo
Mas não é assim que pensam os Criacionistas, que simplesmente negam essas evidências com um curioso argumento de Descontinuidade.
O ARGUMENTO DA DESCONTINUIDADE
Havendo ligação transicional entre Répteis e Aves, a evolução é confirmada, mas caso Aves e Répteis estejam isolados, sem uma ligação contínua de espécies entre eles, a Teoria da Evolução ainda não teria sido confirmada pela evidência fóssil. Dessa forma, para evitar admitir a confirmação da Teoria, os Criacionistas alegam que os fósseis encontrados são Aves, OU são Répteis, pertencendo a uma classe ou outra, e não a um estágio intermediário.
É preciso recorrer então aos motivos que levam-nos a classificar as Aves e Répteis de hoje em classes distintas. Vamos citar apenas 3 características de cada grupo.
AVES: Tem penas, são bípedes, tem bico (não tendo dentes, ou tendo dentes minúsculos).
RÉPTEIS: Tem pele escamosa ou rugosa (não tendo penas), são quadrúpedes ou ápodes (cobras), tem dentes.
Não há exemplos vivos que desafiem essa classificação abertamente. Não se conhece aves que andem em 4 patas ou répteis com penas, porém, os fósseis das espécies transicionais claramente reúnem em um mesmo animal algumas destas característias, além de várias outras mais sutis.
O famoso Arqueopterix por exemplo, assim como outras espécies extintas já descobertas, apresenta penas e dentes. Não se conhece atualmente aves com dentes grandes como os do Arqueopterix. Mas algumas destas espécies extintas inclusive apresentam uma curiosa mistura de Bico e Grandes Dentes, bem como escamas e penas.
O Microraptor apesar das penas é claramente quadrúpede, ou ao menos predominantemente, tal como um esquilo, podendo ficar em pé sobre as patas traseiras, mas andando em 4 patas.
E o mais curioso, é que os próprios Dinossauros, apesar de seu nome originalmente significar "Répteis Terríveis", eram em grande quantidade bípedes!
É claro que o Criacionista tem todo o direito de alegar que todas essas criaturas deveriam ser enquadradas na classe dos "Dinossauros", que não seriam exatamente Répteis nem Aves. Como analogia frequentemente cita-se o Ornitorrinco, que apesar de ter mamas e bico, não é necessariamente uma espécie intermediária entre Aves e Mamíferos.
Sem entrar no mérito sobre os Ornitorrincos, basta lembrar que esta é uma espécie encontrada num continente bastante afastado da Eurásia e África, onde, como prevê a Teoria da Evolução, as espécies tenderiam a se diferenciar das espécies de outros continentes, percorrendo caminhos evolutivos imprevisíveis.
Porém a maior parte dos fósseis encontrados, bem como répteis e aves do presente, vieram de um mesmo continente, tendo inclusive coexistido durante algum tempo. Além disso, diferente do Ornitorrinco ou da Équidna, há tantos fósseis que misturam caracteristicas de répteis e de aves que é possível ordená-los numa ampla escala transitiva.
Cientistas evolucionistas separaram dezenas de espécies extintas mas com evidências fósseis em 5 Estágios transitivos, onde pode-se notar uma maior presença de características de aves a medida que se avança na escala.
As penas desepenham uma papel importante nessa escala, sendo bastante rústica como um mero cone oco, e similares a escamas, no Estágio 1, onde há exemplares como o Allossauóides, mas se tornando cada vez mais elaboradas até que no Estágio 5, onde está o Arqueopterix, já são bastante parecidas com as penas das aves atuais.
Mas a capacidade sofistmática humana é ilimitada, e razão é meramente uma espada que pode ser usada para qualquer fim. Os criacionistas podem muito bem alegar a hipótese razoavelmente válida de que todas essas espécies estão isoladas umas das outras, tendo surgido separadamente num ato de criação Divina ou mediante Avançada Tecnologia Alienígena Extraterrestre.
Evidentemente, trata-se de uma hipótese não testável, que sempre poderá alegar a descontinuidade não importa quantas fases de transição possamos demonstrar. Esse mesmo argumento poderia alegar que as cores Vermelha e Amarela nada tem haver uma com a outra, sendo fenômenos descontínuos, enquanto outros dizem que elas fazem parte de um mesmo espectro originado da Luz Branca. Se então lhes mostrarmos como prova de que elas fazem parte do mesmo fenômeno, a existência da cor Alaranjada, ele simplesmente dirão que esta é apenas uma outra cor isolada, e se mostrarmos um Alaranjado Avermelhado, bem como um Amarelo Alaranjado, poderão alegar que são outras cores distintas.
Portanto, o argumento da Descontinuidade é um tipo de Tautologia, uma afirmação que se mostrará verdadeira em qualquer situação. Havendo evidências fósseis transicionais ou não, o Argumento funciona do mesmo jeito, havendo níveis de cor intermediário entre Vermelho e Amarelo ou não, não faz diferença.
Poderíamos mostrar um milhão de espécies intermediárias cronologicamente ordenadas entre o Euornithes, possivelmente a espécie transicional do Estágio 5 mais próxima de aves atuais, e um Tucano, que aliás é um tanto parecido. Mas não importa! Os Criacionistas simplesmente alegarão que são um milhão de espécies isoladas que não tem qualquer parentesco umas com as outras.
Não importa que mostremos que o DNA de cada uma dessas espécies é progressivamente similar. Eles podem alegar que espécies similares teriam DNAs similares porque Deus usou um padrão similar de criação, ainda que os DNAs compartilhem também falhas e lixo genético inúteis.
Não importa que mostremos um gradiente de mil cores entre o Vermelho e o Amarelo, como forma de demonstrar que todas fazem parte da mesma matriz de luz. Eles poderão alegar que são mil cores distintas que vêm de matrizes diferentes.
UM OVO DURO DE QUEBRAR
A máxima Criacionista de que jamais foram encontrados fósseis para confirmar a evolução é, SEM SOMBRA DE DÚVIDA, a mais gritante de todas as inverdades. Não só já foram achados inúmeros fósseis de espécies transicionais, como continua-se achando todos os meses, como as leituras de DNAs residuais ajudam a esclarecer a ligação entre essas espécies.
Mesmo assim os Criacionistas continuam a afirmar incansavelmente que jamais foram achados tais fósseis, é uma idéia fixa e insensível a qualquer argumento ou evidência. O motivo é até compreensível, pois cultivar essa ilusão é vital para eles.
A evidência fóssil é provavelmente a maior de todas as evidências da evolução, ela demonstra pouco a pouco os ramos perdidos da árvore evolutiva da vida, e fornece indicações de onde e como procurar novas pistas. Se dobrarmos a quantidade de evidências fósseis, o que é quase certo que irá ocorrer, é bem provável que a maior parte de todo o processo evolutivo ocorrido na Terra fique esclarecido. Com os avanços nos métodos de leitura do DNA, não demorará muito até conseguirmos traçar um desenho ainda mais preciso de como a vida se desenvolveu.
Mas nada disso irá mudar a opinião dos Criacionistas, eles estão encerrados numa visão de realidade determinada pela sua interpretação literal da Bíblia, recheada de apelos a eventos que não podem ser jamais verificados e que jamais deixaram vestígios. Vivem num mundo particular, restrito, e tão limitado quanto um Ovo, de couraça indestrutível a qualquer forma de evidência ou argumento.
Protegidos pela casca do argumento tautológico e infalseável da descontinuidade, eles podem viver tranquilos em seus domínios teológicos e quem sabe felizes em seu universo de poucos milhares de anos, na maioria dos casos, onde a própria história tem data marcada para terminar.
Quem quiser entretanto, pode sair de seu ovo, e descobrir um Universo muitíssimo maior, de bilhões de anos-luz de distância, com um futuro ilimitado pela frente, e abrindo as asas da mente, voar pelos ares do conhecimento e das possibilidades.

Marcus Valerio XR
Janeiro de 2004
http://www.evo.bio.br/LAYOUT/GALINHAOVO.html

O elo perdido

 O “ELO PERDIDO” FOI ENCONTRADO?

 

Corrente

Se cada vez que um criacionista faz essa pergunta surgisse um elo de metal, já haveria quantidade suficiente para forjar uma corrente que chegaria até a Lua. Curiosamente, pouquíssimos evolucionistas usam esse termo, e em poucas ocasiões, quase sempre num sentido bem diferente. Isso ocorre por que “Elo Perdido” NÃO é um conceito evolutivo. Não é um termo técnico usado para designar aquilo que é melhor referido como “lacuna” no registro fóssil, na melhor hipótese.
Portanto, quando alguém faz essa pergunta, é difícil saber o que tem em mente, mas uma coisa fica clara: Sua ignorância no assunto. Em geral é apenas um criacionista tentando empurrar a velha falácia da inexistência de fósseis transicionais, que existem aos milhares, mas são negados com o Argumento da Descontinuidade, que examinaremos mais adiante.

“A má intenção já está evidenciada na palavra “perdido”
É muito difícil saber como surgiu o termo “elo perdido”, mas de certo foi numa época em que a Teoria da Evolução ainda não estava suficiente desenvolvida e com seus termos técnicos bem definidos. O termo costuma ser usado para se referir a uma “espécie transicional” entre duas outras, que serviria de ligação evolutiva. Na maioria das vezes refere-se à ligação entre a espécie humana e seu ancestral hominídeo, ou melhor dizendo, se referiria, porque normalmente quem usa esse termo ainda pensa que o homem veio do macaco.
Porém, a má intenção já está evidenciada na palavra “perdido”, ou seja, o termo quase sempre é usado com pressuposição de que não existem evidências que corroborem a evolução das espécies, em especial da espécie humana. Assim, a pergunta além de maliciosa, é estúpida. Se o “elo” já tivesse sido encontrado não estaria “perdido”!
Observe também que há uma tremenda diferença em usar o termo com um artigo definido, ou indefinido. Quando alguém que tem conhecimento sobre o assunto diz “um elo perdido”, normalmente está se referindo a um estágio intermediário qualquer que ainda não esteja claro no registro fóssil. Por vezes até pode-se dizer “o elo perdido”, mas sempre num sentido indefinido, como por exemplo “o elo perdido” entre o homo habilis e o homo ergaster, que são espécies fósseis bem próximas entre si, mas que ainda podem admitir um estágio intermediário.

“Afirmar que existe um “elo perdido” é proclamar  a existência de uma espécie que pode nem sequer existir”
No entanto, mesmo esse uso é no mínimo desaconselhável, porque além do termo ser perpetuamente condenado a estar desaparecido, não faria sentido usar o termo “elo perdido” numa amostra de série evolutiva que tenha seus estágios bem conhecidos, ainda por cima ele faz uma pressuposição ainda mais incerta, de que deveria haver uma espécie específica, quando na verdade pode haver várias, ou dependendo do caso, nenhuma.
Em outras palavras, entre uma espécie 1 e uma espécie 2, não necessariamente tem que haver uma espécie 1.5, pois poderia haver 1.2, 1.4, 1.6 etc
Portanto, afirmar que existe um “elo perdido” entre duas espécies conhecidas, é proclamar antecipadamente a existência de uma espécie tal que se encaixe naquela lacuna, que pode nem sequer existir, mesmo porque podemos estar errados na concepção da linhagem evolutiva entre elas. Por exemplo:

Cavalo
*
Quem pensa em termos de “elo perdido”, tem a tendência a imaginar que se trata do grande X da série acima. Como se cada elemento da série fosse um elo de um corrente imaginária com apenas uma única ausência, provavelmente porque a diferença entre essas espécies parece maior do que entre as outras. No entanto, o fato de estarmos satisfeitos com os demais elementos da série não impede que ainda existam espécies desconhecidas entre elas, os demais x. E nem mesmo que entre essas existam ainda outras!
Ou seja, ao invés de um “elo”, poderia haver vários elos entre as espécies que já conhecemos, e pior! Poderia haver nenhum, mesmo entre espécies que parecem muito diferentes, porque é perfeitamente possível que tenha havido um salto evolutivo mais drástico do que esperamos, até mesmo com o possível nascimento de um mutante que não chegou a configurar uma espécie de muitos indivíduos, mas sim tendo feito uma transição muito mais rápida.

“Normalmente as séries evolutivas não são lineares”
Assim, já temos um problema que passa desapercebido por muito criacionistas, e por muitos evolucionistas também. Embora normalmente existam “espécies” intermediárias, se forçarmos ainda mais as gradações, podemos chegar a intervalos cada vez menores que não sejam preenchidos por uma outra espécie, mas sim por uns poucos, ou mesmo um único indivíduo, que faria a transição. Isso ocorre porque esse mutante teria uma aparência ligeiramente diferente de seus genitores, e sua prole teria uma aparência mais diferente ainda.
Além de tudo isso, normalmente as séries evolutivas não são lineares. Pode haver não um “elo”, mas uma ramificação “perdida”, pois o mais comum é vermos evidências fósseis que ficam melhor organizadas na forma de árvore, como se segue:
*
Cavalo-evo1
*
Podemos imaginar a espécie mais a esquerda como o ancestral de uma linhagem que vai até a superior direita, mas muitas vezes podemos nos enganar achando que uma espécie deriva de um ramo, quando na verdade vem de outro, e muitas vezes uma espécie similar pode não ser uma ancestral, e sim uma espécie paralela. A simples montagem de uma árvore depende de haver evidências suficientes para se conseguir visualizar uma linhagem. É como tentar montas um quebra-cabeça com diversas peças faltando, depende de quantas tivermos, podemos montá-lo deixando poucos espaços vazios, ou podemos deixar grandes espaços, ou nem ser possível montar coisa alguma.
Os criacionistas, curiosamente, quase sempre usam a expressão “elo perdido” não como um conceito que possa se aplicar a casos distintos, mas como se isso se referisse a uma única espécie hipotética. É como se algum dia evolucionistas tivessem proclamado: “Temos uma série quase completa de espécies intermediárias entre A e B, falta achar apenas uma única.” Mas como já vimos, essa situação, que seria a única onde um “elo perdido” faria sentido, é praticamente absurda.

“Enfim, “elo perdido” é um conceito que não faz sentido”
Portanto, não há um “elo perdido” entre humanos e macacos, porque os humanos não evoluíram dos macacos, e sim de hominídeos que não eram macacos. Também não existe um “elo perdido” entre os humanos e esses hominídeos, porque o conceito em si, como já vimos, não faz sentido. Pode haver estágios desconhecidos, que provavelmente nunca serão totalmente desvendados.
Note que, inclusive, pressupor um “elo perdido” seria na verdade pressupor um grande trunfo, e um triunfo, da pesquisa evolutiva, porque significaria o conhecimento de uma linhagem completa, faltando apenas um único detalhe! É muito curiosa essa abordagem de alguém que pretende insinuar que a evolução está dependendo de uma prova que nunca foi encontrada.
Enfim, “elo perdido” é um conceito que não faz sentido. Os evolucionistas não estão em busca de elos perdidos e quando se referem ao mesmo normalmente é de uma forma ilustrativa. Não há um “elo perdido” entre os humanos e os hominídeos implorando para se encontrado. Há uma vasta, progressiva e muito bem documentada coleção de evidências fósseis que mapeiam um quadro evolutivo bastante coerente, embora ainda incompleto. Além do mais, muitas vezes as espécies de transição não estão sequer extintas, podem ser espécies ainda vivas.
Só quem busca um “elo perdido” é o criacionista, não para encontrá-lo, e sim pelo contrário, feliz em pensar que existe uma perpétua frustração por isso, que como já vimos, não tem outra intenção do que afirmar a inexistência de fósseis que evidenciem o processo evolutivo.

Marcus Valério XR

Fonte: Bule Voador

A Teoria da Evolução é apenas uma teoria?

Criacionismo

É recorrente a alegação dos que “descrêem” na teoria da Evolução, de que ela é “apenas uma teoria”. Isso em geral demonstra que os princípios básicos da ciência não estão claros na mente de quem apresenta essa restrição.
Como é uma alegação bastante comum, seria interessante analisá-la em seus dois pontos principais: o que é uma teoria do ponto de vista científico e qual o efeito, em termos de confiabilidade, que a teoria tem sobre o conhecimento em geral.  

APENAS UMA TEORIA

Usamos o termo “teoria” na vida diária, como sinônimo de “palpite”. Minha teoria é que o mocinho vai ficar com a mocinha no final da novela; minha teoria é que o culpado é o mordomo (ou o deputado, já que estamos no Brasil). Esse uso do termo “teoria” é legítimo, em se tratando de linguagem informal, leiga. Mas em termos científicos, o nome que se dá a um palpite é “hipótese”.
Minha hipótese é que matéria atrai matéria na razão direta da massa e no inverso do quadrado da distância. Minha hipótese é que os continentes se movem de alguma forma, o que provoca terremotos e separações que criam oceanos. Ambas as alegações atualmente são teorias, mas começaram como hipóteses científicas.
Embora se acuse a ciência e os cientistas de terem a “mente fechada”, é no ambiente das hipóteses que percebemos que isso simplesmente não é verdade. Hipoteticamente, cientistas podem criar quase tudo e seguir a intuição, rasgos de imaginação, criatividade louca e descontrolada, etc. (o fazem constantemente). Mas, depois, é necessário passar para o próximo passo: comprovar a hipótese e transformá-la em “teoria científica”.

Muitos dos testes a que tem de sobreviver uma teoria são criados para demonstrar que ela está errada.
Por melhor que pareça a hipótese original como explicação; por mais adequada ou mais “bela” que seja, ela não passará de uma hipótese enquanto não for posta à prova. Isso é feito através de uma das mais rigorosas ferramentas intelectuais já criadas pelo ser humano: o método científico. E ele é restritivo, cuidadoso, extremamente detalhista e exigente. Apenas se passar por todo esse rigor, uma evidência favorável a uma hipótese poderá ser aceita.
Se uma hipótese acumular muitas evidências, dezenas, centenas, às vezes milhares; se sobreviver por longo tempo sendo atacada de todas as formas; se o conjunto dessas evidências formar um todo sólido; só então a hipótese passará a ser chamada de “teoria”. Uma teoria científica.
Muitos dos testes a que tem de sobreviver uma teoria são criados para demonstrar que ela está errada. Sim, opositores de uma hipótese criam testes nos quais, dependendo do resultado, a hipótese será  descartada. É parte do processo ser atacada dessa forma, seja uma hipótese proposta por um leigo ou por um pseudocientista; seja uma hipótese proposta por um ganhador do Premio Nobel ou um cientista de renome. Quando defensores de “teorias” sem sentido ou pseudocientíficas reclamam do “excesso de rigor” contra suas alegações, parecem pensar que é só contra elas que o rigor é exercido. Estão, claro, enganados. O rigor do método é aplicado a todo conhecimento, bem antes que possa ser aceito como confiável, ou seja, considerado científico.
Boa parte das atuais teorias científicas tradicionais foram, em seu início, espantosas e difíceis de aceitar. A Teoria da Deriva dos Continentes, a Microbiologia, a Relatividade, entre outras, tiveram de percorrer o mesmo sofrido e doloroso percurso de suportar as provas, experimentos e verificação de previsões, antes de serem aceitas. Passaram por todo um calvário de recusas, ataques e experimentos “para provar que são tolices”. A diferença é que sobreviveram a tudo e acabaram aceitas pelo volume de provas favoráveis.

Teorias científicas não são algo para se “acreditar”.
Então, quando algo é uma “teoria científica”, é bem mais que um palpite, uma explicação interessante, uma “teoria” no sentido leigo do termo. É uma explicação solidamente baseada em um conjunto de dados, experimentos, replicação independente, previsões bem sucedidas, etc., que, para ser refutada, exigiria outro enorme conjunto de dados e experimentos, não apenas um vago “não acredito nisso”.
Mesmo porque, teorias científicas não são algo para se “acreditar”, são conclusões sólidas que devem ser aceitas se não puderem ser refutadas.
Um ponto que precisa ser mencionado, mas que daria por si só outro artigo enorme, é a questão das correções que teorias sofrem de tempos em tempos. Um texto que deve ser consultado é “A Relatividade do Errado”, de Isaac Asimov, sobre como teorias se ajustam para melhorar e refinar; não para serem substituídas completamente a cada minuto.

APENAS UMA TEORIA CONFIÁVEL

O segundo ponto importante, agora que já se compreende melhor o que o termo “teoria” representa em ciência, é qual o efeito sobre a confiabilidade de uma teoria para as pessoas e para a ciência.
Boa parte do conjunto de conhecimentos científicos que se agrupa em uma teoria pode ser usado de forma prática, tecnológica. A utilidade desses desdobramentos fundamenta-se no fato de que a maior parte do conhecimento é real, válido. Entre algo que é alegado, mas não é científico; e algo que é alegado, mas é científico (no sentido restrito de ter sobrevivido ao rigor do método), a confiabilidade do segundo é superior. Isso deveria bastar para se compreender que as teorias científicas não são “apenas teorias”.

Toda teoria científica tem de ser o mais próximo possível da realidade, ou os sistemas que dela dependem não seriam possíveis.
A teoria do eletromagnetismo é confiável e as equações de Maxwell, parte dessa teoria, são confiáveis, reais, válidas. Caso contrário, as TVs, rádios e computadores que usamos não funcionariam. As leis do movimento e da teoria da gravidade devem ser reais ou o mais próximo disso, ou nem aviões e carros funcionariam. Muito menos, ainda, os satélites geoestacionários, que permitem a comunicação global por telefones celulares e redes mundiais de computadores.
E em se tratando de satélites e GPS’s, a Teoria da Relatividade – ou a maior parte dela – deve ser real, verdadeira, ou esses satélites não funcionariam corretamente (relógios de satélites precisam ser ajustados de acordo com as previsões da teoria da relatividade; caso contrário os GPS’s cometeriam erros gigantescos de posicionamento).
Deixando de lado, por um instante, a Teoria da Evolução, todo conhecimento, toda teoria científica, ou seja, aquela que passou pelo rigor do método científico, tem de ser o mais próximo possível da realidade, tem de ser o mais verdadeira possível em sua maior parte, ou os sistemas que dela dependem não seriam possíveis.
Não é possível assentar-se à frente de um computador e escrever para um fórum que “não acredito nas equações de Maxwell e acho o eletromagnetismo uma furada”. Seria, claro, um tremendo contra-senso - mesmo para o mais ignorante sobre ciência e teorias científicas - usar o fruto da teoria eletromagnética para alegar que “não se acredita nela”. Seria ainda mais irracional se esse usuário de computadores apresentasse uma “teoria alternativa”, sem nenhuma comprovação e sem que tenha passado pelo rigor do método, para propor que as TVs são mecanismos que capturam duendes extra-dimensionais telepatas, que emitem as imagens para a tela.

É assim porque deus quis (ou o design inteligente de quem não se diz o nome ).
Ninguém em sã consciência trocaria a “explicação” científica, que sobreviveu a todo rigor do método e possui desdobramentos evidentes à nossa volta – e a partir da qual boa parte da tecnologia é construída – por uma teoria alternativa completamente sem evidências.
Voltando à evolução, parece que esse é exatamente o caso dos que negam a teoria e se apegam a uma teoria mística, confortável e confortante, mas totalmente sem evidências. Alegam que é assim porque “Deus quis” (ou o design inteligente de quem não se diz o nome).
Nenhum biólogo, nenhum cientista das diversas áreas que produzem evidências da evolução nega a evolução como fato (a ciência pode parecer formada por áreas distintas, mas todas elas se relacionam; são uma só, na verdade). Claro que, como em todo campo de estudo científico, existem discordâncias pontuais sobre alguns problemas, como por exemplo, se o mecanismo principal da evolução é a seleção natural, a seleção natural mais seleção sexual, o equilíbrio pontuado, o gradualismo ….
Mas a evolução a partir de um ancestral em comum não se discute. Não porque seja “proibido”, uma espécie de “dogma científico”. Simplesmente não existem evidências contrárias que justifiquem uma discussão e, por outro lado, existem milhares de evidências a suportar a evolução. Os mecanismos envolvidos ainda são estudados, embora uma boa parte deles seja bem conhecida.

Recusar-se a “acreditar” na evolução é o mesmo que se recusar a “acreditar” na gravitação universal
Evidência genética no DNA, citada em um trecho do livro de Dawkins, “O Rio que Saia do Éden”:
“O “parágrafo” nos nossos genes que descreve a proteína chamada citocromo c tem 339 letras. Doze trocas de letras separam o citocromo c humano do citocromo c dos cavalos, nossos primos muito distantes. Apenas uma troca de letra no citocromo c separa os humanos dos macacos (nossos primos bastante próximos), uma troca de letra separa os cavalos dos jumentos (seus primos muito próximos) e três trocas de letras separam os cavalos dos porcos (seus primos um tanto mais distantes). Quarenta e cinco trocas de letra separam os humanos do levedo e o mesmo número separa os porcos do levedo. Não é surpresa que estes números sejam os mesmos, pois, à medida que subimos o rio que conduz aos humanos, ele reúne-se ao rio que conduz aos porcos muito antes de o rio comum a humanos e porcos se juntar ao rio que conduz ao levedo. “
Mas o mais importante é que, como a Teoria do Eletromagnetismo, a Teoria da Gravitação, a Teoria da Relatividade, a Teoria da Deriva dos Continentes e a Teoria Científica Sobre Qualquer Coisa, também a Teoria da Evolução passou pelo rigor extremo do método, passou por experimentos, por coleta de dados (só os anos de pesquisa de Darwin são uma vida, seus dados continuam sendo estudados e ainda se descobre informação importante neles), por previsões bem sucedidas (sem conhecer o trabalho de Mendel, Darwin supôs que um sistema de informação não analógico deveria estar no cerne da hereditariedade, trabalho feito por Watson e Crick com o DNA, décadas depois) e por uma enorme gama de confirmações em diferentes áreas, como a geologia, paleontologia, biologia, química, química molecular, física e até astrofísica (o tempo de vida do universo e do planeta são dados importantes para a evolução).
Recusar-se a “acreditar” na evolução, apenas com a “sensação de descrença” (ah, eu não posso acreditar nisso), é o mesmo que recusar-se a “acreditar” no eletromagnetismo, na gravitação universal, na microbiologia, etc. É o mesmo que recusar todo avanço que essas teorias trouxeram para nossa espécie. É ser cego ao fato de que o método científico, rigoroso e extremo, produziu maravilhas, como a expectativa de vida de mais de 80 anos (no passado, 30 ou menos), satélites de comunicação e toda sorte de conhecimento e tecnologia que sustenta nossa civilização.

Nada impede que se demonstre que a teoria está incorreta. Mas, para isso, é necessário mais que descrença e fé.
É um tipo de cegueira seletiva, que leva uma pessoa a usar computadores, ir ao médico, andar de avião, falar ao celular e, ao mesmo tempo, ignorar que cada uma dessas coisas é fruto do rigor e da confiabilidade dos conhecimentos produzidos de forma científica.
Se o método científico é “falho” ao atestar a validade da Teoria da Evolução, então ele deve ser falho em todas as outras teorias, e o celular e a TV não deveriam funcionar. Se ele é valido para testar essas teorias – teorias para as quais o celular e a TV são evidências – então ele também é válido para testar a Teoria da Evolução. E ela passou, com mérito, pelo rigor do método em dezenas de áreas e, principalmente, nos experimentos que foram criados para provar que estava errada.

UMA TEORIA CONFIÁVEL E CIENTÍFICA

Compreender o método científico, o rigor e o processo de validação é mais importante para compreender a realidade da evolução - compreender que ela é um fato - do que compreender a própria teoria. Eu não sei exatamente o que são as equações de Maxwell, nem como analisá-las para saber se são reais. Mas eu uso os frutos desse conhecimento e percebo que não poderia ser assim se o eletromagnetismo não fosse, em sua maior parte, da forma como a ciência afirma.
O mesmo deve ser compreendido quanto à Teoria da Evolução. Mesmo que não se entenda como realmente pode ser real, é necessário perceber que nossa mais poderosa ferramenta de validação, o método científico, foi aplicado por mais de 150 anos e ela sobreviveu e se ampliou durante todo esse tempo. Compreender isso significa aceitar que não se pode “desacreditar” na evolução por ser “apenas uma teoria”.
Nada impede, como em qualquer área da ciência, que se demonstre que a teoria está incorreta. Mas, para tanto, é necessário mais que descrença e fé. É preciso um volume de dados, provas, evidências e explicações tão grande ou maior do que aquele que sustenta a teoria. E isso é algo que desespera os que são contra a evolução, pois simplesmente não existe nada disso. Existe, sim, um vago desconforto com a realidade: somos animais como quaisquer outros (talvez um pouco mais arrogantes e pretensiosos).

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Homero Ottoni, programador de computadores. Cursou dois anos de Medicina, quatro anos de Direito e atualmente está na faculdade de Computação.

Fonte: Bule Voador

domingo, 22 de maio de 2011

A imagem que não condiz

A clássica imagem ao lado é utilizada em diversas edições de A Origem das Espécies, livro em que Charles Darwin apresenta a teoria evolutiva da seleção natural como mecanismo preponderante no surgimento e evolução de novas espécies. Usado também para ilustrar aulas e apresentações em seminários temáticos sobre evoluão, essa figura, em sua essência, nos traz uma imagem errônea sobre como se procede os eventos evolutivos. Essa clássica imagem leva a maioria das pessoas a crerem que a evolução é algo “estanque” e determinísta.


Ao observarmos a figura, ela nos remete a idéia de que o caminho natural da evolução seria a transformação de macacos em humanos. Mas essa idéia é equivocada, pois não existe na seleção natural um sistema de coordenadas e instruções que sinalizam a evolução das espécies para um dado caminho. Essa idéia de que o destino na história evolutiva dos Pan troglodytes deveria ser os Homo sapiens é uma falsa premissa, baseada numa visão interpretativa carregada de soberba do argumento a posteriori. A soberba do argumento a posteriori estabelece-se ao termos uma análise de eventos históricos colocada sobre a mesa, e daí tira-se a conclusão de que toda a cadeia de eventos até o presente fosse algo determinado, planejado, preconcebido para que a vida, e, por conseguinte nós seres humanos, viéssemos habitar a Terra. Porém, aqueles que pensam dessa maneira, esquecem de levar em conta que tais cadeias de eventos (no caso em questão, os eventos evolutivos) não são determinísticos, mas estabelecidos pelo acaso. A evolução biológica não tem uma linha de descendência privilegiada, nem um fim projetado (Dawkins,2009).

Mas como o acaso pode fazer parte do processo de evolução? Ainda hoje algumas pessoas criticam a teoria evolutiva, por essa valer-se do acaso para explicar como se dá o processo de evolução. Porém, o que essas pessoas não compreendem, é que o acaso é um elemento importante e que atua em duas instâncias primordiais na seleção natural: a seleção e a eliminação (Ernst Mayr, 2005). A eliminação pode ser influenciada pela variação aleatória imposta por diversos fatores à seleção (gametogênese, mutação, aspectos aleatórios no encontro de dois gametas, eventos estocásticos naturais como terremotos, secas, inundações, eventos glaciais, vulcanismo, etc.).

De volta ao cerne da questão que propus esclarecer: se não viemos do macaco, viemos de onde?

Como argumentei anteriormente, essa idéia da descendência do Homo sapiens diretamente do chimpanzé é uma deturpação da teoria da seleção natural, um argumento muito utilizado até hoje pelos criacionistas de plantão, como uma forma de tentar jogar ao ridículo a idéia da descendência comum das espécies. Logo, o que de fato acontece, é que compartilhamos ancestrais em comum com chimpanzés ou concestral, que por sua vez, possuem concestral com os gorilas. Portanto, não podemos supor que os nossos ancestrais FORAM chimpanzés, mas sim, primatas muito semelhantes aos chimpanzés; tais espécies podem ser classificadas como espécies incipientes, termo utilizado por Darwin para designar organismos em um estágio “transitório” de especiação, mas que não poderia ser classificado como uma nova espécie ainda. Mas, uma análise tão macroscópica desses eventos evolutivos é passível de gerar alguma confusão na cabeça de quem não está tão a par da história evolutiva da humanidade.

Analisando a árvore dos nossos ancestrais mais recentes, temos na base o Australopithecus afarenses, cujo o qual  daria origem, através do processo de especiação, há quatro diferentes espécies: A. africanus, A. garhi, A. bahrelghazali e Paranthropus aethipicus. Essa figura mostra que diversas linhagens conviveram entre si durante alguns milhares de anos, o que demonstra que o processo evolutivo acaba por ser gradual, e não da noite pro dia como os criacionistas costumam deturpar. Por essa razão é que a história de que “nunca se viu um chimpanzé dar a luz a um humano” é, em termos mais atuais, uma trollagem. Numa analise descomprometida e tomando a premissa dos criacionistas, veremos que para um chimpanzé dar a luz a um humano, ele teria que no mínimo transcender por volta de 5 a 6 milhões de anos, conforme podemos observar melhor na próxima figura.

Esse gráfico nos mostra de maneira mais clara o quanto as diversas linhagens ancestrais do homem conviveram e partilharam de uma mesma época. Se repararmos teremos bem no canto esquerdo, abaixo, o Homo sapiens  e H. neanderthalensis convivendo num mesmo período. Essa convivência pode ser constatada através dos estudos moleculares que apontam genes de origem de H. neanderthalensis existentes no genoma humano, o que demonstra que poderia haver um cruzamento viável entre as linhagens. Além das evidências moleculares, temos as evidências morfológicas que contribuem para a robustes da teoria evolutiva dos humanos, como o “knucklewalking” (compartilhado entre gorilas e chimpanzés); a análise comparativa de crânios, dentes, a maturidade sexual tardia e genitália - entre chimpanzés e humanos - , e tantos outros estudos comparativos, até mesmo na área da psicologia evolutiva.

(Em um período de 500 mil anos, pelo menos cinco linhagens de hominídeos conviveram juntas)

“Uma hipótese intuitiva frequentemente elaborada sobre a evolução humana afirma que ela ocorreu 'no fim', isto é, depois que todos os outros animais 'terminaram' o seu desenvolvimento. Nos livros e nos cursos de evolução, a emergência dos hominídeos é discutida na seção final e os hominídeos quase sempre parecem ser o 'glacê' do bolo biológico. Tal suposição, porém, é errônea. Durante o período em que os hominídeos surgiram e evoluíram muitas outras espécies sofreram importantes mudanças evolutivas, assumindo sua forma atual ao mesmo tempo ou depois do aparecimento dos hominídeos” (Robert Foley, 1993 – Apenas Mais Uma Espécie Única. p. 273)

O ensino fragmentado dos conteúdos de biologia nas escolas, ainda mais no conteúdo de evolução, e o fraco preparo dos profissionais (ainda me impressiona a quantidade de acadêmicos que cursam biologia, mas nunca sequer folharam A origem das espécies ou alguma obra do gênero) são fatores preponderantes para a manutenção da idéia equivocada de que a evolução se dá de maneira determinística, planejada e salteada – como num passe de mágica. Espero que com esse texto possa ter elucidado a questão de que chimpanzés de 5-6 milhões de anos atrás não deram a luz a humanos, e nem irão dar. Eis a capa de A origem das espécies que deposito grande crédito e que faz jus a idéia e teoria que o livro contém.


Deixo aqui a dica de alguns livros que recomendo para um maior entendimento e esclarecimento sobre esse tema:

Biologia, ciência única (Ernst Mayr);
A grande história da evolução (Richard Dawkins);
Os humanos antes da humanidade – Uma perspectiva evolucionista (Robert Foley);
A origem do homem e a seleção sexual (Charles Darwin);
A origem das espécies (Charles Darwin);